quarta-feira, 31 de março de 2010

QUINTA-FEIRA SANTA: MISSA DA CEIA DO SENHOR

“Todas as vezes que comerdes deste pão e beberdes deste cálice, estareis proclamando a morte do Senhor, até que Ele venha.”
(I Cor 11,26)

INTRODUÇÃO

No entardecer da Quinta-Feira Santa, incia-se o Tríduo Pascal, onde a Igreja revive os momentos derradeiros da vida de Nosso Senhor. Neste dia, celebra-se a Sagrada Ceia pela qual Cristo institui o Sacramento da Eucaristia. Amando os seus até o fim, Jesus antecipa sua entrega a favor da humanidade, pelo seu santíssimo Corpo e preciosíssimo Sangue nas espécies do pão e do vinho. Era uma ceia judaica e se aproximava a festa da Páscoa dos judeus.

A atitude de Nosso Senhor nos revela um Deus amoroso e sempre presente na vida e na história de seu povo. Ele perpetua sua presença entre nós, pela Eucaristia, instituindo também o sacerdócio ministerial ao ordenar que se celebre sempre aquela ceia em sua memória (cf. I Cor 11,24-25). Através dos sinais sacramentais perpetuados em nosso meio, portanto, celebramos também o seu Mistério Pascal.

Também conhecida como Missa do Lava-Pés, apesar de não ser o foco (este rito até pode ser omitido), esta celebração traz a dinâmica da humildade, que era o que aquele gesto indicava à época. Com isso, Jesus nos dá o novo mandamento do amor, que iguala escravos e livres, que devem servir o próximo indistintamente. O gesto do lava-pés traduz de maneira perfeita esse novo mandamento.


1 ASPECTOS CELEBRATIVOS

A celebração da Ceia do Senhor, assim como as demais celebrações do Tríduo Pascal é marcada pela ocorrência de elementos atípicos. Onde for recomendação, neste dia, doze pessoas terão seus pés lavados, repetindo o gesto de Cristo. Após a comunhão eucarística, ocorre o translado do Santíssimo Sacramento e o altar “perde” função a partir de então, até a Vigília Pascal, ficando desnudado, assim como seu entorno. Além disso, um clima de absoluto silêncio deve ser observado quando da dispersão da assembleia.


1.1 O QUE PROVIDENCIAR

De complexidade considerável, esta celebração requer cuidados extras em relação a uma Missa estacional (dominical cotidiana): a preocupação em se consagrar partículas em quantidade suficiente para a Liturgia da Paixão do Senhor, na Sexta-feira Santa é um importante exemplo.

Além disso, necessário se faz separar o véu umeral para o momento do translado, turíbulo e naveta para a celebração (o Cerimonial dos Bispos indica um segundo turíbulo), tochas e velas.

No que diz respeito ao ritual do lava-pés, fundamental preparar os assentos para os designados, bem como preparar gremial (avental (se houver)) jarro e bacia com água, toalha para enxugar os pés e outra para que o presidente lave as mãos, incluindo sabonete e lavabo.

Para o translado do Santíssimo Sacramento, necessário preparar uma capela lateral, contendo um outro sacrário para reposição, bem como flores, velas e outros ornamentos adequados.


2 QUESTÕES PRÁTICAS

Dada a magnitude da celebração, convém que os leitores sejam orientados a ensaiarem bem os seus textos, de modo a evitar falhas durante as leituras. Da mesma forma, os designados para desnudar o altar podem simular o momento, priorizando o silêncio e a discrição.

Os “discípulos” devem ser orientados quanto aos procedimentos que ocorrerão durante a celebração. Para isso, uma reunião prévia deve ser realizada, na qual se priorizará o que segue:

- roupas: se não houver um traje padrão, oriente-se para que os participantes estejam adequadamente trajados: calça e camisa para os homens, o mesmo para as mulheres, permitindo-se o uso de vestidos ou saias abaixo do joelho;
- calçados: sandálias ou chinelos, evitando-se calçados fechados para facilitar o momento do “lava-pés”.
- postura: convém destacar a importância da postura, ainda mais por se tratar de pessoas que estarão em evidência.


2.1 O LAVA-PÉS

O rito do lava-pés, apesar de bastante significativo e dentro da dinâmica da celebração, não é obrigatório, razão pela qual pode ser realizado onde for costume ou aconselhado (cf. CB 301). Para a sua realização, após a homilia, os escolhidos são conduzidos até o lugar onde os assentos foram preparados. O presidente da celebração depõe a casula, podendo cingir-se com um gremial de linho adequado (o CB aponta esta possibilidade ao bispo, que eventualmente utilizando a dalmática, não poderá depô-la). Gremial é uma espécie de avental. Aproximando-se dos doze escolhidos, deita água no pé direito, enxugando-o em seguida. O rito não prevê o gesto do beijo, comumente disseminado pelas comunidades, mas também não o impede, indo do costume do local. Ainda que muitas comunidades escolham mulheres para a ocasião, o Cerimonial dos Bispos indica somente homens (idem).

Durante a realização do lava-pés, a equipe de canto entoa antífonas ou cantos adequados. Terminado o rito, o presidente lava as mãos, retoma a casula, e se dirige à cadeira presidencial (sédia), de onde prosseguirá a celebração, omitindo-se o Símbolo (Profissão de Fé), finalizando a Liturgia da Palavra com a oração dos fiéis. Não existe recomendação para que os doze permaneçam no mesmo local, sendo mais indicado que todos retornem aos seus lugares de origem, sobretudo se estiverem no presbitério.


2.2 SAUDAÇÃO DA PAZ: UMA CURIOSIDADE

Nas novas disposições trazidas pelo Concílio Vaticano II, que promoveu grandes reformas na Sagrada Liturgia, nada se observa quanto à saudação da Paz de Cristo. Contudo, na tradição pré-conciliar, o “ósculo da Paz” era omitido neste dia, consequência de um antiquíssimo uso da Igreja de não se dar a Paz na Sexta-feira Santa. Omitia-se, também, como sinal de horror pelo “beijo traidor” de Judas Iscariotes.


2.3 TRANSLADO

Para o momento do translado do Santíssimo Sacramento para o Altar da Reposição, após a oração depois da comunhão organiza-se uma procissão, com a seguinte ordem de integrantes: acólito com a cruz, acompanhado de acólitos que levam os castiçais com as velas acesas; a seguir o diácono e dois turiferários com os turíbulos fumegando, o presidente da celebração e ministros com o Santíssimo Sacramento. Todos levam velas e, junto do Santíssimo Sacramento levam-se tochas (cf. CB 307). Enquanto isso, canta-se um canto eucarístico apropriado, sendo mais indicado o “Canta Igreja”, exceto as duas últimas estrofes. Em relação à citação de referência, ocorre algumas variações em relação ao texto original, adaptados à realidade das comunidades, onde o presidente da celebração é o sacerdote.

Chegando-se ao local da reposição, o diácono ou, na falta dele, o presidente da celebração coloca as âmbulas sobre o altar ou no sacrário, mantendo-o com a porta aberta. De joelhos, o presidente incensa o Santíssimo Sacramento, enquanto se canta “Tão sublime”. Após a incensação, as âmbulas são recolhidas para o sacrário e a porta é fechada.

Observado um breve instante de adoração, todos se levantam, genufletem e deixam, em silêncio, o recinto, rumo à sacristia. Não há benção de envio (final). Após esse momento, é indispensável a observação do mais absoluto silêncio.

Dentro das condições de cada comunidade, é recomendado aos fiéis que durante a noite permaneçam em adoração. A partir da meia noite, porém, não deve haver nenhuma solenidade.


2.4 DESNUDAÇÃO DO ALTAR

Após o “término” da celebração, o altar é desnudado. Dele retira-se castiçais, cruz do altar, toalha e outros objetos. É comum ainda, embora não prevista, a retirada de outros objetos móveis localizados no presbitério, como cadeiras e imagens pequenas. Quanto às cruzes eventualmente existentes, se não removidas, que sejam cobertas. Imagens também costumam ficar ocultas.


3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

É visível que a celebração envolve momentos de complexidade relevante, necessitando de cuidados especiais. Geralmente, as comunidades ficam repletas de fiéis; desta forma, haja o devido cuidado na escolha de leitores, para que as leituras sejam devidamente proclamadas. À frente, no espaço do presbitério, poderá haver uma mesa de estatura baixa e característica rude, onde estarão alguns pães (como sírios), um maço de trigo, um jarro com vinho e uvas (rosadas). Se oportuno, uma estola também ficaria junto aos outros símbolos, remetendo à ideia da instituição do sacerdócio ministerial, por meio do qual nos vem Cristo Eucarístico, nos dons do pão e do vinho.

A necessidade de prestar assistência ao presidente da celebração, sobretudo na ausência de diácono, é evidente. Haja essa preocupação, visando ao bom desenvolvimento da celebração.

Durante o hino de louvor é bastante significativo que os sinos sejam repicados, onde houver. Após esse momento, são “calados” até o hino de louvor na Vigília Pascal.

Na oração eucarística, durante a elevação das espécies transubstanciadas, onde for costume o uso de sinetas, estas deverão ser substituídas por matracas.

Neste dia é oportuna a distribuição da comunhão sob as duas espécies, já que a data é bastante significativa. Caso ocorra, redobre-se os cuidados sobre o preparo do altar, com um corporal maior, quantidade de cálices proporcional ao número de âmbulas, vinho em maior quantidade e ministros em número suficiente. Orientações relativas podem ser dirigidas aos fieis, em caso de necessidade.

Outro momento importante, está na observância do silêncio após o translado, tanto dentro quanto fora do espaço celebrativo. Haja orientação suficiente nesse sentido, preferencialmente antes da celebração, para não quebrar o clima solene e meditativo.

Como os próprios documentos relativos à liturgia indicam, não se expõe o Santíssimo à adoração dos fiéis, no ostensório; ao contrário, fica em âmbulas dentro do sacrário fechado.

sexta-feira, 26 de março de 2010

O TRÍDUO PASCAL


“Tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim.”
(Jo 13,1b)

De acordo com os livros litúrgicos, o Tríduo Pascal tem início na tarde da Quinta-feira Santa com a Missa vespertina na Ceia do Senhor se estendendo até a Vigília Pascal no Sábado Santo. Ele não faz parte da quaresma, inciada na Quarta-feira de Cinzas, cujo fim se dá antes do período vespertino da Quinta-feira Santa, mas constitui a grande celebração do Mistério Pascal de Jesus.

Considerando a unidade do tríduo, é como se esses três dias constituíssem um único dia: a missa da Quinta-feira não termina, continuando com a vigília que se estende pela madrugada (em mutias comunidades) até às 15h, com a Liturgia da Paixão. Ao anoitecer da Sexta-feira da Paixão, as ruas de nossas comunidades são tomadas por grandes multidões que com velas e cantos, caminham em procissão, testemunhando o Cristo que se entrega a favor de muitos, na espera da sua gloriosa ressurreição. Da mesma forma, em sequência à liturgia das 15h da sexta-feira, na qual não houve nem saudação inicial nem final, vivemos o silêncio esperançoso do Sábado Santo, junto ao santo sepulcro. À noite, porém, celebramos a liturgia mais solene do ano litúrgico, a mãe de todas as vigílias, a Vigília Pascal no Sábado Santo, na qual a Igreja antecipa as alegrias da Páscoa, a grandiosa e soleníssima festa da Ressurreição de Jesus Cristo.

Estas celebrações constituem o cume de toda a vida cristã, pois nela revivemos os aspectos mais importantes da vida de Cristo para a humanidade: sua paixão, morte e gloriosa ressurreição.

A ideia de preparação que o termo “tríduo” sugere não encontra sentido nesse contexto, uma vez que a unidade desses dias com a Páscoa é indivisível. Logo, celebrar a Páscoa, é trazer à memória o sofrimento de Cristo em sua entrega e morte na cruz e, a partir daí, fazer ressoar a grande boa nova: Ele vive! Portanto, nesse contexto, todos os dias do tríduo são importantes, porque eles se complementam e estão de tal forma associados que perder um dia é como chegar atrasado à uma missa dominical do cotidiano.

Infelizmente, o que se percebe nos tempos atuais são pessoas que aproveitam o chamado “feriadão” para viajar e sequer se recordam da rica dimensão litúrgica celebrada e atualizada de forma tão bela e singular.

É preciso, pois, eliminar o aspecto recreativo e comercial da data, revivendo com Cristo toda sua dramática história para que entrando com Ele no sepulcro saiamos renovados para mais um ciclo anual. E não há tempo mais propício para isso que as festividades pascais.

quarta-feira, 24 de março de 2010

DOMINGO DE RAMOS E DA PAIXÃO DO SENHOR

“Se com Ele sofremos, com Ele reinaremos.”
(II Tm 1,12)

INTRODUÇÃO

Com ramos nas mãos, recordando a entrada triunfal de Cristo em Jerusalém (cf. Lc 19,28-40), sendo aclamado rei pelo povo, a Igreja abre a Liturgia deste domingo. O Cerimonial dos Bispos (CB) salienta a duplo aspecto do Ministério Pascal de Cristo que convenientemente deve ser abordado na catequese deste dia (cf. CB 263), salientando que estamos inseridos na realidade pascal de Jesus, ou seja, sepultados para o pecado com Cristo, igualmente ressurgiremos para a eternidade em Deus.

É costume que nas comunidades haja apenas uma celebração com bênção e procissão dos ramos, no horário que for mais conveniente. As demais celebrações ocorrem sem esse momento de manifestação pública pelas ruas das comunidades.

O Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor é uma junção de duas liturgias muito ricas. A Liturgia das Palmas é herdada da Igreja-Mãe da Terra Santa que por volta do Século V recordava a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, percorrendo o mesmo caminho que Ele, revivendo com entusiasmo as cenas narradas pelos evangelistas A Igreja de Roma, por sua vez, celebrava de maneira austera a paixão de Cristo, antecipando seu santo sacrifício. A partir do Século XII, ocorre a incorporação da primeira liturgia à segunda, objetivando mostrar as duas extremidades daquela semana em que Jesus foi traído, condenado, flagelado e crucificado, mesmo sendo aclamado rei poucos dias antes.

Ao passo que a liturgia antecipa a memória da morte do Salvador, também antecipa sua Páscoa, proclamando-o rei. Por isso, essa data também ficou conhecida como a “Páscoa Florida”.


1 ASPECTOS CELEBRATIVOS

As missas deste dia são constituídas de duas partes, a saber: comemoração da entrada de Jesus em Jerusalém e celebração eucarística.


1.1 COMEMORAÇÃO DA ENTRADA DE JESUS EM JERUSALÉM

Esta primeira parte tem início em local fora da igreja, como uma igreja menor ou outro lugar apropriado. Nesta parte, o presidente da celebração chega ao local, enquanto entoa-se um canto apropriado. Após, o presidente saúda a Santíssima Trindade e a assembleia reunida, convidando-a a participar de forma ativa e consciente da celebração do dia. Em seguida, profere a oração de bênção dos ramos, aspergindo-os em seguida.

Logo após a bênção dos ramos, ocorre a proclamação do Evangelho referente a esta primeira parte. Posteriormente, a convite do diácono ou do próprio presidente, inicia-se a procissão rumo à igreja. Enquanto caminha, a assembleia entoa cantos e aclamações em honra de Cristo-Rei.


1.1.1 Observações sobre a primeira parte

Considerando a celebração inciada em lugar externo, algumas considerações são pertinentes, como as relativas ao serviço de som adequado, objetos utilizados durante o rito e equipe de canto litúrgico.

Em relação ao som, indispensável ressaltar a importância que exerce ao permitir que todos os fiéis presentes ouçam com atenção e comodidade as orações, motivações e cantos relacionados ao momento. Convém se pensar numa mesa de som única, que seja móvel, de modo a permitir seu uso durante o trajeto processional até a igreja.

Quanto aos objetos litúrgicos, são essenciais para o bom andamento da celebração. A caldeira com o asperges, por exemplo, deve estar preparado e colocado sobre uma mesa. Atenção quanto a água; caso não esteja benta, avisar o presidente da celebração. E mais, a depender da quantidade de fiéis e da capacidade da caldeira, convém deixar um recipiente com mais água para acrescentar, em caso de necessidade de reposição. O uso de incenso também é bem propício nesta ocasião, motivo pelo qual turíbulo com brasa e naveta com incenso devem estar previamente preparados, tendo as funções de turiferário e naveteiro devidamente desempenhadas. A cruz processional pode estar ornada com alguns ramos bentos e seguirá em procissão logo atrás do turíbulo, ladeada pelas tochas (velas). Missal, lecionário e/ou evangeliário também devem estar previamente preparados, com as partes relacionadas já separadas pelas fitas que os acompanham.

Durante a aspersão dos ramos, é facultado ao presidente o uso da capa pluvial de cor vermelha, veste com a qual o presidente poderá conduzir toda a primeira parte da celebração.

Uma equipe de canto litúrgico é bastante importante nesse contexto, já que tem a função de sustentar a assembleia com cânticos. Ademais, diante de uma manifestação pública de fé em Cristo, nesse dia aclamado rei, essa e outras questões merecem esmero, de forma a envolver as pessoas que eventualmente acompanharão, mesmo sem participar, a procissão. A beleza e os cuidados também são formas de evangelização. Naturalmente, os cantos traduzem o espírito da celebração, que é proclamar Cristo como rei, dar hosanas ao Filho de Davi, tal como aquele povo à época do acontecimento.

Por fim, é conveniente a preparação de um belo ramo, talvez trabalhado, ornado com um laço vermelho, para que o presidente da celebração possa ostentá-lo durante o trajeto processional rumo à igreja.


1.2 CELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA

A partir da chegada da procissão à igreja, a celebração segue com a celebração eucarística. Estruturalmente pouco se diverge de outras celebrações, salvo os ritos iniciais que não ocorrerão. A narrativa da Paixão de Nosso Senhor é extensa e comumente participativa, onde vários leitores participam; o presidente normalmente lê os textos de Jesus e a assembleia interpreta o povo da época. Diante da narrativa do momento em que Cristo entrega seu espírito, uma pausa é inserida, acompanhada um momento onde todos se ajoelham. A partir deste ponto pós-narrativa da paixão, a celebração deixa de assumir particularidades, exceto durante a apresentação das oferendas, quando a Igreja no Brasil realiza a coleta da solidariedade, um gesto concreto à Campanha da Fraternidade realizada todos os anos no período da quaresma.


1.2.1 Observações sobre a segunda parte

Chegada à igreja, a procissão é finalizada. Os fiéis tomam seus lugares e a segunda parte desta celebração se inicia com a oração da coleta, omitindo-se os ritos iniciais comumente realizados nas demais celebrações e parcialmente empregado na primeira parte desta celebração. É costume nas comunidades, quando do fim da procissão, que a equipe celebrativa aguarde a entrada dos fiéis para, enfim, se dirigirem ao presbitério. De qualquer forma, não se trata de uma nova entrada processional, mas a conclusão da que se iniciou no ambiente externo.

Chegando ao presbitério, antes da veneração do altar, o presidente da celebração, se assim entender, retira a capa pluvial e se reveste da casula vermelha. Em seguida, venera o altar e o incensa. Ocupando a frente da cátedra, o presidente conduz a oração da coleta. Inicia-se, após, a Liturgia da Palavra, como de costume. Porém, o Evangelho, neste momento chamado de “Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo”, costuma contar com a participação de um narrador, alguns leitores, Jesus e o povo, sendo que as falas de Jesus costumam ser interpretadas pelo presidente da celebração, ao passo que as sentenças do povo são proferidas por toda a assembleia. Geralmente, os folhetos litúrgicos trazem essas indicações, sobretudo a respeito do momento onde toda a igreja se ajoelha durante uma pausa em silêncio (quando Jesus entrega seu espírito). Esse modo de narrar a paixão, caso ocorra, demanda muito preparo, sobretudo ensaios prévios, sendo recomendado pessoas experientes na função de leitor e que saibam usar o microfone de forma adequada. Convém, ainda, escalar somente homens para a narrativa, uma vez que as falas se referem a personagens do sexo masculino.

Para a narrativa da paixão de Nosso Senhor, não se incensa o livro litúrgico, nem se o ladeia com velas. Ao final, também não se beija o livro, como de costume.

Relativo à apresentação das oferendas, é costume a oferta do gesto concreto da quaresma, direcionado pela Campanha da Fraternidade. Para isso, a fim de separar essa coleta específica da cotidiana, deve haver o cuidado em se distribuir envelopes para esse fim.

Dentro das preocupações, além da cor litúrgica vermelha, é costume das comunidades adornar as igrejas com ramos. Contudo, haja cuidado para se evitar exageros, desviando a atenção da celebração, ainda mais que nessa segunda parte, o foco principal está na paixão de Nosso Senhor. Outro cuidado é preparar um cesto com ramos abençoados para distribuição aos fiéis que não trouxeram os seus. O melhor momento para esta distribuição é durante a dispersão da assembleia ao fim da celebração.


2 NAS CELEBRAÇÕES SEM PROCISSÃO

Onde não houver procissão, a bênção dos ramos poderá ocorrer na forma de entrada solene, onde os fiéis trazendo seus ramos, se reúnem na porta da igreja ou dentro dela. O presidente da celebração, acompanhado por alguns fiéis, se dirige para uma parte da igreja de onde haja boa visibilidade e, de lá, inicia a celebração saudando a Santíssima Trindade e a comunidade reunida. A partir desse ponto, a celebração segue nos moldes da primeira parte (ver 1.1), com exceção da procissão, que ocorrerá somente com o trajeto do presidente e equipe celebrativa até o presbitério para sequência, conforme a segunda parte (ver 1.2).


3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Dispensável informar os cuidados que devem cercar a preparação desta celebração. O fato de ser anual exige constante consulta aos livros litúrgicos a fim de se recordar cada passo. Para tanto, algumas reuniões antecipadas devem ocorrer para tratar de escalas, atribuição de funções, listagem de equipamentos, objetos e outras pendências, checagem das vestes utilizadas, enfim uma preparação prévia que visa evitar “furos” de ordem organizacional e litúrgica.

Em algumas comunidades é costume cobrir as imagens a partir deste dia. Em outras, as imagens são cobertas logo no início da quaresma. Caso haja esse propósito, os tecidos também deverão estar preparados para cobertura das imagens antes da celebração. Geralmente, usa-se tecido roxo para essa finalidade.

O fato de ser o domingo que antecede o grande Domingo da Ressurreição, com uma celebração diferenciada e que atrai olhares atentos por parte dos fiéis e de pessoas que estarão pelas ruas acompanhando as movimentações, a motivação deve ser maior, em vista de uma celebração bem conduzida e harmoniosa. Muito importante haver uma coordenação que se preocupe em estabelecer relações prévias entre presidente da celebração, equipes de canto litúrgico, escalados para funções e a própria comunidade. Dessa forma, o hosana entoado em honra de Cristo ganhará mais força e, pela 'comum unidade' dos participantes desse ato litúrgico, ecoará pelas ruas das nossas comunidades, das nossas cidades e de todo o mundo.

terça-feira, 23 de março de 2010

SEMANA SANTA

Nos próximos dias trataremos de um tema de relevante importância a nós, cristãos: a Semana Santa. Também conhecida como Semana Maior, é o momento onde atualizamos de forma intensa a paixão, morte e ressurreição de Nosso Senhor. Daí a sua importância e destaque ante às demais datas litúrgicas. Para tanto, abordaremos as grandes datas desta semana, começando pelo Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor, passando pela Quinta-Feira Santa, Sexta-Feira da Paixão, Sábado Santo e culminando na grandiosa Vigília Pascal e Domingo da Ressurreição do Senhor. Muito mais que abordar a questão histórica dessas datas, algumas diretrizes serão oferecidas de forma a subsidiar as equipes de liturgia, em vista de celebrações bem preparadas e vivenciadas.

Morrendo nossa morte para que pudéssemos viver a sua vida, Jesus inaugura um novo tempo de reconciliação e de misericórdia. Renascidos pelo batismo e purificados pelo sacramento da reconciliação, somos chamados a fazer memorial do sacrifício único e definitivo de Cristo na cruz. A fim de bem celebrarmos os acontecimentos derradeiros do ministério de Jesus, a Igreja entra com seu Mestre no deserto e, com Ele, se prepara e busca forças para vencer o maligno a fim de evangelizar todos os povos, fazendo-os promotores da Verdade, propagadores do Cristo ressuscitado que passou pela cruz, símbolo de loucura para muitos, no qual nos gloriamos.

Acompanhe, portanto, as próximas publicações. Juntos refletiremos e viveremos, mais uma vez, os sofrimentos de Cristo, sepultando o homem velho e ressurgindo, gloriosos, para a nova vida que nos espera.

sábado, 6 de março de 2010

O “NOME DE DEUS” NA LITURGIA


Não é algo tão recente, mas parece que é desconhecido em muitas comunidades católicas. Desde meados de 2008, a Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos emitiu carta às conferências episcopais em que trata do uso no “Nome de Deus” na Liturgia. Eis o resumo desta carta, elaborado pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil:

“A Presidência da CNBB recebeu uma carta da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos (29/06/08) com orientações sobre a “tradução e pronúncia, no âmbito litúrgico, do divino Nome significado no tetragrama sagrado - YHWH”. Apresentamos aqui um resumo desta carta.

I – Parte expositiva

a) Na Bíblia, o nome próprio do Deus de Israel, conhecido como tetragrama sagrado ou divino, está escrito com quatro letras consoantes do alfabeto hebraico na forma YHWH, traduzido sob diversas formas de escrita e pronúncia em nossas orações e cantos, como, por exemplo, “Yahweh”, Jahweh”, “Javé” etc.

b) No Antigo Testamento, o santo nome de Deus revelado no tetragrama YHWH, era expressão da infinita grandeza e majestade de Deus, e, por isso, NÃO SE PODIA PRONUNCIÁ-LO, sendo, portanto, substituído, na leitura do texto sagrado, com uma denominação alternativa – ADONAY – que significa “Senhor”.

c) A tradução grega do Antigo Testamento, chamado dos Setenta, usou regularmente o tetragrama hebraico com o vocábulo grego Kyrios, que significa “Senhor”. Uma vez que o texto dos Setenta constituiu a Bíblia das primeiras gerações cristãs de língua grega, em que também foram escritos todos os livros do Novo Testamento, os próprios cristãos das origens nunca pronunciaram o tetragrama divino. Na tradução para o latim, o termo foi traduzido pelo vocábulo “Dominus”, correspondente tanto ao hebraico Adonay como ao grego Kyrios.

d) Na cristologia neo-testamentária, o termo Senhor é reservado a Cristo ressuscitado, proclamando assim a sua divindade (cf. Fl 2,9.11; Rm 10,9; 1 Cor 2,8; 12,3; Rm 16,2; 1 Cor 7, 22; 1 Ts 3,8 etc).

e) O fato da Igreja ter deixado de pronunciar o tetragrama do nome de Deus, além de um motivo de ordem filológico, expressa também a fidelidade à tradição eclesial, uma vez que o tetragrama sagrado nunca foi pronunciado em âmbito cristão nem traduzido em nenhuma das línguas em que a Bíblia foi traduzida.

II – Parte dispositiva

1. “Nas celebrações litúrgicas, nos cantos e nas orações, não se use nem se pronuncie o nome de Deus na forma do tetragrama YHWH.

2. Nas traduções do texto bíblico para as línguas modernas, destinadas ao uso litúrgico da Igreja, empregue-se para o tetragrama divino o equivalente Adonay / Kyrios: “Senhor”.

3. Nas traduções, no âmbito litúrgico, de textos que tenham, um a seguir ao outro, o termo hebraico Adonay e o tetragrama YHWH, traduza-se Adonay com “Senhor” e use-se a forma “Deus” para o tetragrama YHWH”.

Pedimos, portanto, que as equipes de liturgia, entre elas, os responsáveis pelos cantos litúrgicos, fiquem atentos a esta orientação da Congregação para o Culto Divino e façam as devidas adaptações. Na revisão dos Lecionários, do Missal Romano e do Hinário Litúrgico, a equipe de tradutores da CNBB seguirá esta orientação.

Brasília, 29 de outubro de 2008.
Comissão Episcopal Pastoral para a Liturgia”

Parece que esta orientação não vem sendo seguida em muitas comunidades, mas em nome da comunhão da Santa Igreja, precisa entrar nas pautas das reuniões de equipes de cantos e de Liturgia, visando à adequação. Muitos cantos trazem o Nome de Deus e precisam ser adaptados ou até excluídos dos repertórios, ou não se enquadrará como canto litúrgico, em vista da dissonância com a Tradição.