terça-feira, 19 de outubro de 2010

MÚSICA E LITURGIA

“Se queres saber no que cremos, vem ouvir o que cantamos.”
(Santo Agostinho)



INTRODUÇÃO


Nas últimas décadas temos percebido claramente que a música vem conquistando cada vez mais espaço, e isso não é de se espantar. Os primeiros indícios de música vêm do ano 60000 aC, com a descoberta de uma flauta feita de osso. O ser humano sempre assimilou sons e, a partir deles, pode compor arranjos, numa sucessão do que mais tarde chamaríamos de notas musicais. À Grécia atribui-se a evolução musical, tanto é que a palavra música vem do grego e significa "a arte das musas".
Desde cedo, a Igreja já valorizava o canto e os centros de fé, como Roma, Bizâncio, Antioquia e Jerusalém, já eram grandes centros de música.

Das escolas musicais, passando pelo canto gregoriano, nos transportamos à nova realidade trazida pelo Concílio Vaticano II. Mesmo mantendo o canto gregoriano e o órgão de tubos como oficiais no rito latino, houve abertura para outras formas de canto e é sobre essa realidade que este artigo se destina.


1 O CANTO LITÚRGICO

Não é tarefa fácil abordar esse assunto, que é um tanto polêmico e rende boas discussões que muitas vezes não levam a lugar algum. Atualmente, vemos uma grande explosão de equipes de canto em nossas comunidades e parecem que são divididas em grupos. Temos os coros tradicionais que empregam somente o órgão como instrumento musical, mas também temos as equipes influenciadas pela Renovação Carismática Católica. Ainda devemos considerar as equipes mais neutras, como aquelas que procuram seguir os hinários litúrgicos, sem esquecermos as liturgias conduzidas com cânticos de cunho mais social e as variantes musicais que resultam em celebrações temáticas, como sertanejo, afro, dentre outros.

Válido citar a Constituição Conciliar Sacrossanctum Concilium sobre a Sagrada Liturgia que diz:

"112. [...] A música sacra será tanto mais santa quanto mais intimamente unida estiver à ação litúrgica, quer como expressão delicada da oração, quer como fator de comunhão, quer como elemento de maior solenidade nas funções sagradas. A Igreja aprova e aceita no culto divino todas as formas autênticas de arte, desde que dotadas das qualidades requeridas."

De antemão, concluímos que a Igreja não tem objetivo de promover somente um estilo musical, desde que haja bom senso na forma de conduzir a assembleia reunida. Contudo, não é lícito criar "missas temáticas", como a sertaneja, a carismática ou a estilo CEB, já que o centro da Sagrada Liturgia é Cristo e o canto tem a função de situar os fiéis dentro da missa, inserindo-os no mistério celebrado.

Mas a grande problemática não está tanto nessas variações anteriormente citadas. O que se vê nas comunidades eclesiais é a nítida falta de preparo dos músicos, que não têm criérios para escolha dos cantos empregados na ação litúrgica.

Cada tempo litúrgico apresenta suas particularidades, e essas diferenças próprias de cada ocasião deveriam ser consideradas na hora de se escolher os cantos para uma celebração (cf. SC 107). A questão não é escolher a música bonita, a preferida do padre, a mais tocada nas paradas de sucesso católico, mas aquela que expressa o que a Igreja celebra.

A Igreja parece viver uma primavera no que tange a música, dentre outros assuntos. Trabalhos cada vez mais perfeitos encantam e conquistam corações. Mas nem toda canção católica é uma canção litúrgica e, portanto, não pode ser entoada na Liturgia. E existem ocasiões em que essas músicas são bem-vindas, como em grupos de oração, novenas, manifestações artísticas e na evangelização.

Outro agravante são as melodias adaptadas, aquelas canções do meio secular “cristianizadas” e inseridas na Liturgia. Também devem ser evitadas, pois não constituem formas autênticas no culto cristão.


2 O PAPEL DA EQUIPE DE CANTO LITÚRGICO


Na Liturgia, os elementos da equipe de canto, juntamente com os que servem o altar, os comentadores e leitores, desempenham verdadeiro ministério litúrgico (cf. SC 29). Contudo, é preciso tomar grande cuidado com o emprego do termo “ministério”, comumente utilizado para se referir ao ministro ordinário (diáconos, presbíteros e bispos) e extraordinário (os que auxiliam na distribuição da sagrada comunhão, na organização das celebrações dentre outros).

A equipe de canto é parte da assembleia, porém organizada de forma a sustentar com o canto todos os fiéis presentes. Portanto, sua função não é animar a assembleia, atributo do presidente da celebração ou do animador (comentarista).

Os músicos, enquanto equipe, pertencentem à Sagrada Liturgia e devem participar das formações promovidas, bem como aprimorar sempre seus conhecimentos sobre Liturgia e sobre música, de forma a corresponder à sua finalidade única anteriormente mencionada.

Sendo a Liturgia previsível, já que os textos aprovados estão organizados e facimente disponíveis, é dever do músico se planejar anteriormente a fim de evitar falhas e não empregar cantos aleatórios, fora da proposta litúrgica.

No espaço litúrgico, o lugar mais indicado para a equipe de canto é próximo da assembleia, não voltada para o povo, mas com o povo voltada para o altar, centro de toda ação litúrgica.


3 UM TIPO DE CANTO PARA CADA PARTE DA MISSA

Cada momento da celebração, quando permitido acompanhamento musical deve corresponder à ação daquele instante. A seguir, algumas pistas a serem consideradas.

- Entrada processional: este canto tem por atribuição abrir a celebração, promover a comunhão da assembleia, introduzindo-a no mistério celebrado, e acompanhar a procissão de entrada (cf. IGMR 47). Canções que falem da caminhada ou que priorizam a comunhão eclesiástica se encaixam bem. Caso seja omitido, canta-se ou recita-se a antífona de entrada do dia ou textos próprios do Gradual Romano (que contém o formulário utilizado antes da reforma litúrgica). O canto de entrada se encerra imediatamente após o presidente da celebração chegar até o altar e saudá-lo com o ósculo, a menos que haja incensação, ocasião pela qual será prolongada a sua execução.

- Ato penitencial: uma vez que existem formulários para esse momento, quando for cantado deve possuir a mesma linha das súplicas (Senhor/Cristo/Senhor piedade (Kyrie/Christe/Kyrie eleison)). Dentro de cada momento, um comportamento cuidadoso deve ser observado. Estamos diante de um momento de exame da consciência, onde cada fiel olha para dentro de si e se reconhece pecador, falho, necessitado da misericórdia do Pai. Naturalmente, perdão se pede em clima de arrependimento, não de festa, não com palmas ou gestos acrobáticos.

- Hino de Louvor: quando cantado, merece fidelidade ao texto litúrgico. Não se trata de uma simples glorificação à Trindade Santa. O Hino de Louvor tem Cristo como centro, assim como a Liturgia. Também não se louva a Deus pelo perdão anteriormente recebido, mas glorifica-se o Pai a partir da pessoa de Jesus, na unidade com o Espírito Santo.

- Salmo Reponsorial: como cânticos de louvor e súplica que são devem ser sempre cantados, ao menos o seu refrão. O texto sagrado do dia dará a percepção da melodia, se deve ser mais meditativa ou mais vibrante. Há a possibilidade de substituição por textos do Gradual Romano, mas jamais se admite omissão ou substituição por um canto qualquer.

- Aclamação ao Evangelho: exceto no tempo quaresmal deve, obrigatoriamente, possuir o “aleluia”. Preferencialmente seja dada preferência à antífona do Evangelho, ou esta seja adaptada e incluída no canto escolhido. Após a aclamação ao Evangelho, é costume em algumas comunidades cantar novamente um breve trecho, preferencialmente do refrão. Trata-se de um costume válido e que não encontra barreiras nas normas litúrgicas.

- Apresentação das Oferendas: geralmente este canto rende graças a Deus pelos dons que apresentamos para serem consagrados. Pode, ainda, falar da partilha dos bens, para que o pão de cada dia não falte na mesa do irmão, mas sempre ligado ao momento que celebramos, a Liturgia Eucarística. Grande cuidado em celebrações da Palavra (dirigidas por leigos): se não há oração eucarística, não se deve referenciar a apresentação do pão e do vinho. Outro detalhe importante é não prolongar por muito tempo o canto, encerrando o canto logo após a finalização da apresentação das oferendas sobre o altar e conclusão da coleta, se houver.

- Santo: é outro hino que exige fidelidade ao texto original. É recomendável que a sua letra não apresente conteúdo diferente e que impossibilite a assembleia de cantá-lo. É o canto mais importante da ação litúrgica, um hino de engrandecimento a Deus, destacando sua santidade, majestade e eternidade.

- Abraço da Paz: canto de fraternidade e comunhão, deve ser bem breve. Pode ser substituído por um breve acorde e onde há esse costume, a experiência tem se demonstrado bastante produtiva. O importante é não prolongar esse momento, com o grave risco de quebrar o clima pré-comunhão eucarística. É preciso quebrar a errônea visão de confraternização no meio da missa. O fiel presente saúda apenas os mais próximos de si e o tempo para isso é breve. Contudo, o termômetro usado para finalizar esse canto é o retorno do presidente/dirigente da celebração ao altar. Válido, ainda, ressaltar que este canto não é previsto em nenhum documento sobre liturgia.

- Cordeiro de Deus: prece de competência da assembleia e que pode ser cantada. Uma curiosidade um tanto desconhecida: não existe uma regra que limita em duas vezes a repetição de “Cordeiro de Deus que tirais o pecado do mundo, tende piedade de nós”. Esta parte pode ser repetida quantas vezes forem necessárias, pelo menos duas, até que o presidente da celebração conclua a fração do Pão, seguido pelo “dai-nos a paz”. Só se inicia o Cordeiro de Deus após o sacerdote começar o gesto da fração do Pão.

- Canto de comunhão: deve proporcionar o que o rito mesmo sugere: a comunhão (entre Cristo e o fiel comungante). Melodias mais suaves proporcionam clima de recolhimento, propício à contemplação e adoração, abordando o Reino de Deus, remetendo àquela Ceia da noite da entrega de Nosso Senhor ou mesmo manifestando nossa alegria em ser convidado para Dele se alimentar. Sendo possível, a sintonia com a Liturgia da Palavra do dia pode expressar a igualdade de importância entre as mesas eucarística e da Palavra afirmada pelo Concílio Vaticano II.

- Ação de Graças: a palavra Eucaristia significa “ação de graças”. Um canto pós-comunhão estende o clima orante e deve manifestar a alegria de pertencer ao número dos que creem no Cristo, glorificando-O. Quando utilizado, que seja breve, de modo a haver tempo para o silêncio sagrado pós-comunhão. Ao contrário do canto de comunhão, este canto que pode ser cantado por toda a assembleia traduz de maneira mais intensa o desejo de sermos um com Cristo e o Pai, no nosso ato de confiante entrega em suas mãos. A Didaqué, documento dos primórdios da Igreja, destaca um canto utilizado como forma de agradecimento após a comunhão. Na prática, seria mais interessante utilizá-lo como um segundo canto de comunhão, preferencialmente, quando toda assembleia, ou grande maioria já estiver comungado, enquanto o presidente/dirigente da celebração purifica os vasos sagrados.

- Canto final: eis um outro canto que não é previsto na Sagrada Liturgia. A própria reforma prevê o “ide em paz” como finalização da celebração, tirando o sentido de um canto final. Prefiro chamá-lo de canto de dispersão da assembleia, já que não cumpre nenhuma função litúrgica. O Documento 79 da CNBB (1999) “A música litúrgica no Brasil”, em seu item 324 sugere que “durante a saída do povo, o mais conveniente seria um acompanhamento de música instrumental. Se em alguma ocasião parecer oportuno um “canto final”, por exemplo, o Hino do Padroeiro ou Padroeira na sua festa, ou um hino em honra da Mãe do Senhor em algumas de suas comemorações, que ele seja cantado com a presença de todo o mundo, logo após a bênção, antes do “Ide em paz”.”. Como já é um costume bem enraizado, não somente na Igreja no Brasil, mas em todo o mundo, é conveniente a escolha de cantos que abordem a missão de construir o Reino de Deus e de evangelizar. Estes cantos costumam ser mais vibrantes. Importante não fazer desse momento pós-celebração um show, com barulho ensurdecedor e muito prolongado.


(continua no próximo artigo)

sexta-feira, 2 de abril de 2010

VIGÍLIA PASCAL NA NOITE SANTA

“Ó noite em que Jesus rompeu o inferno, ao ressurgir da morte vencedor: de que nos valeria ter nascido se não nos resgatasse em seu amor?”
(do Precônio Pascal)

INTRODUÇÃO

Após vivermos a Páscoa da Ceia (na Quinta-Feira Santa) e a Páscoa da Cruz (na Sexta-Feira da Paixão), a Igreja nos insere na grande noite, na Páscoa da Luz, que é o próprio Cristo vivo e ressuscitado em nosso meio.

No Sábado Santo, ao contrário do que muitos pensam, não existe celebração da missa. É o dia em que a Igreja permanece silenciosa junto ao Santo Sepulcro do Senhor, meditando seu ato salvífico manifestado na dor da Cruz, onde se doou em favor de muitos.

Ao anoitecer, porém, a Igreja celebra a Vigília Pascal que por antiquíssima tradição é “a noite de vigília em honra do Senhor” (cf. Ex 12,42). Como bem nos lembrava Santo Agostinho, esta é “a noite santa e mãe de todas as vigílias cristãs”.


1 UM POUCO DE HISTÓRIA

Nos primórdios do cristianismo, nessa noite, os fiéis passavam em vigília, aguardando a ressurreição de Cristo. Já a partir do século II foi inserida, nesta celebração, a administração dos sacramentos de iniciação cristã. Desde então, já havia uma estrutura próxima ao que hoje celebramos.

Com o passar dos séculos, a Vigília Pascal foi deixando de ser tão participativa, como na antiguidade. Por conta disso, essa celebração foi antecipada para o início da tarde do sábado. No século XII, iniciava-se às 12h e quatro séculos mais tarde, passou a ser antecipada para as 9h da manhã. Com textos que remetiam à noite santa em que Cristo rompeu os grilhões da escravidão, celebrar em período diurno parecia uma certa incoerência.

Segundo o Frei José Ariovaldo da Silva, em seu artigo denominado “Em torno do Tríduo e da Vigília Pascal: coisas curiosas da história” (ficha nº 9 da coletânea reunida no livro ‘Liturgia em Mutirão’ – CNBB – 2007), foi em 1951 que foi restabelecida, pelo papa Pio XII, a Vigília Pascal como em suas origens, ou seja, na noite do sábado para o Domingo de Páscoa, dispositivo ratificado pela reforma litúrgica promovida pelo Concílio Vaticano II.

O Cerimonial dos Bispos afirma que esta celebração não deve se iniciar antes do início da noite do sábado e seu término precisa ocorrer antes da aurora do domingo (cf. CB 333).


2 ASPECTOS CELEBRATIVOS

A Vigília Pascal é composta por quatro liturgias: Liturgia da Luz, Liturgia da Palavra, Liturgia Batismal e Liturgia Eucarística. Tem início no lado externo da igreja, com a bênção do fogo novo, quando se acende o novo círio pascal, que simboliza o próprio Cristo na luz da sua ressurreição. Dentro da igreja, prossegue-se com a Proclamação da Páscoa, Liturgia da Palavra, bênção da água batismal e administração dos sacramentos de iniciação cristã (se houver catecúmenos). A partir da Liturgia Eucarística a celebração deixa de assumir particularidades relevantes.


2.1 O QUE PROVIDENCIAR

Para que esta celebração aconteça, é necessário preparar (cf CB 336):

- para a bênção do fogo: uma fogueira num lugar fora da igreja, onde o povo se reunirá inicialmente, o círio pascal, cinco grãos de incenso (ou cinco cravos), utensílio adequado para acender a vela com o fogo novo, lanterna para clarear os textos que serão proferidos pelo presidente da celebração, missal romano com as partes já devidamente separadas, velas a todos os que participam da Solene Liturgia e utensílio para o turiferário tirar brasas acesas do fogo, objetivando usá-las no turíbulo.
- para a proclamação da Páscoa: suporte para o círio pascal junto ao ambão (na impossibilidade de se colocar junto ao ambão, deve ser preparado outra instante de onde será proclamada a Páscoa, ao lado do local onde estará o suporte com o círio).
- para a Liturgia Batismal: recipiente com água e, se houver administração de sacramentos da iniciação cristã, óleo dos catecúmenos, santo crisma, vela batismal e Ritual Romano.


3 CELEBRAÇÃO E QUESTÕES PRÁTICAS

3.1 BÊNÇÃO DO FOGO NOVO

Fora da igreja, diante da fogueira, o presidente da celebração saúda o povo, enfatizando a importância desta celebração, usando de fórmula no missal romano. Em seguida, procede à bênção do fogo e acende silenciosamente o novo círio pascal, inserindo, logo em seguida, os cinco grãos de incenso ou cinco cravos na grande vela, simbolizando as cinco chagas de Jesus.


3.2 PROCISSÃO

Uma vez deitado incenso no turíbulo, inicia-se a procissão até a igreja, esta desta vez não precedida da cruz processional e tochas. A procissão segue a seguinte ordem: turiferário, diácono ou, na falta deste, o presidente da celebração com o Círio Pascal. Logo atrás, segue o presidente (caso não esteja portando o círio), diáconos, assistentes e todo o povo, todos com velas apagadas nas mãos.


3.3 CHEGADA À IGREJA E PROCLAMAÇÃO DA PÁSCOA

Já dentro da igreja escura (sem lâmpadas acesas), o círio pascal é apresentado por três vezes, sob a aclamação: “Eis a Luz de Cristo!”, ao que todos respondem “Demos graças a Deus!”. Na segunda exclamação, as velas passam a ser acesas a partir do próprio círio, se espalhando por toda a assembléia. Estando os fieis com suas velas acesas no fogo novo, ocorre a proclamação da Páscoa, também conhecida como Precônio Pascal ou simplesmente por “Exulte”.


3.4 LITURGIA DA PALAVRA

Uma vez proclamada a Páscoa todos apagam suas velas e sentam-se para a Liturgia da Palavra, onde nove leituras são propostas, sendo sete do Antigo Testamento e duas do Novo (Epístola e Evangelho). A depender das circunstâncias pastorais, o número de leituras do Antigo Testamento pode ser reduzido para três ou pelo menos dois, mas sem excluir a leitura do capítulo 14 do Livro do Êxodo. Cada leitura é intercalada por um salmo, seguido de oração.

Após a última leitura do Antigo Testamento, entoa-se o Hino de Louvor, enquanto se acendem as velas do altar e repicam-se os sinos (onde houver), que foram “calados” desde o Hino de Louvor na Missa da Ceia do Senhor, na Quinta-feira Santa. Posteriormente, o presidente da celebração diz a oração da coleta, como de costume. Prossegue-se a leitura da epístola paulina e proclamação do Evangelho.


3.5 LITURGIA BATISMAL

Terminada a homilia, dá-se início à Liturgia Batismal. Sacerdote e ministros se dirigem ao batistério ou, se for o caso, prepara-se um recipiente com água no presbitério. Após a exortação do povo (e para isso existem duas fórmulas, uma para quando houver batismo e outra se houver apenas a bênção da água batismal), entoa-se a Ladainha de todos os Santos (também com variantes, caso haja batismo). Durante a ladainha, todos se voltam em direção ao altar e assim permanecem até sua completa execução.

Terminada a ladainha, o presidente da celebração profere a bênção da água batismal. Porém em caso de batismo, esta é precedida de uma oração. Durante a bênção da água batismal, o presidente, se oportuno, mergulha o círio na água. Aqui é realizado o batismo, após os catecúmenos renunciarem ao demônio e suas obras e realizarem a profissão de fé. Catecúmenos adultos são confirmados, caso haja bispo ou sacerdote designado para fazê-lo.


3.5.1 Renovação das Promessas do Batismo

Caso não haja batismo, nem bênção da água batismal, o presidente da celebração benze a água para aspersão da assembleia. Em seguida, renova-se as promessas do batismo, onde todos em pé e com as velas acesas respondem às perguntas feitas pelo presidente da celebração. Procede-se, então, à aspersão da assembleia. A renovação das promessas do batismo ocorre independente de ter havido ou não batismo.


4 LITURGIA EUCARÍSTICA E RITOS FINAIS

A partir deste ponto, a liturgia segue sem particularidades, salvo nos ritos finais, onde na despedida é acrescentado “aleluia, aleluia”. Da mesma forma o povo também faz esse acréscimo ao final da resposta “Graças a Deus”.

Quanto à Liturgia Eucarística, dispensável citar o caráter solene que ela traz, sobretudo porque por dois dias a Igreja não a celebrou, acompanhando as dores de seu Mestre e Senhor e permanecendo silenciosamente orante junto ao seu sepulcro.

Convidados para o Banquete Nupcial do Cordeiro, unimo-nos de tal forma ao Ressuscitado que nossa alegria se torna plena. Jesus vive e está entre nós!


5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Belíssima celebração, esta soleníssima Missa constitui o ápice de todo o ano litúrgico. Quem dela participa, cumpre preceito dominical (cf. CB 335).

Para as equipes de liturgia, eis um grande trabalho a ser desempenhado, já que como pode se perceber, esta celebração é constituída de muitos detalhes, merecendo grandes cuidados.

Onde é costume cobrir as imagens, estas podem ser descobertas no início da Vigília Pascal; algumas comunidades costumam descobri-las durante o Hino de Louvor. A cruz, porém já deverá estar descoberta antes do início da celebração.
Para a proclamação da Páscoa, o missal romano traz um belíssimo texto que deve ser usado preferencialmente. Porém, existem outras versões aprovadas pela CNBB.

Embora assunto polêmico, muitas comunidades expressam por coreografias suaves alguns momentos, sobretudo os salmos. Onde for costume, haja constante preocupação com o que será apresentado, lembrando que tudo é feito para Cristo e não a si próprio. Existem documentos publicados pela CNBB a respeito do assunto, os quais devem ser bem analisados.

Durante a Ladainha de todos os Santos, importante ressaltar que todos devem se voltar para o altar e não para a cruz.

A partir desta Vigília, a Igreja vive o tempo pascal. Dia de cinquenta dias, onde a alegria pela ressurreição de Cristo norteia toda a liturgia e vida cristã.

Na segunda liturgia do Domingo de Páscoa, entoa-se a Sequência, que ocorre entre o fim da segunda leitura e a aclamação ao Evangelho. Toda assembleia participa deste momento em pé.

Durante a oitava da Páscoa, ou seja, os próximos oito dias após o Grande Domingo da Ressurreição, as liturgias diárias são celebradas como solenidades do Senhor. Nestes dias e durante todos os domingos do tempo pascal, o Círio, símbolo do Cristo ressuscitado, deverá ficar aceso, preferencialmente junto ao ambão.


FELIZ PÁSCOA! CRISTO RESSUSCITOU, ALELUIA!!

quinta-feira, 1 de abril de 2010

SEXTA-FEIRA SANTA: CELEBRAÇÃO DA PAIXÃO DO SENHOR

“Em tuas mãos eu entrego o meu espírito.”
(Sl. 30,6)

INTRODUÇÃO

Às 15h, ou noutro horário oportuno, a Igreja realiza a Liturgia da Paixão do Senhor. Neste dia, não se celebra missa em lugar algum, mas ocorre a celebração onde meditamos as dores e morte de Nosso Senhor. Parece que o termo “comemorar” se relaciona a festas alegres, mas não podemos deixar de comemorar o resgate da aliança com Deus através do sacrifício da Cruz. Este acontecimento nos prepara para as alegrias pascais; dessa forma, já celebramos a Páscoa do Senhor. A Igreja prescreve dia de jejum e abstinência de carne.


1 ASPECTOS CELEBRATIVOS

Esta solene ação litúrgica consta de três partes: Liturgia da Palavra, Adoração da Cruz e Comunhão Eucarística.

O altar, desnudado ao fim da liturgia do dia anterior, assim permanece. Igualmente as cruzes (e imagens, onde for costume) também permanecem veladas.

A cruz é apresentada à assembleia, não como sinal de luto e tristeza, mas como instrumento pelo qual nos veio a salvação. Para tanto, através dela, rendemos adoração ao Cristo Redentor.


1.1 O QUE PROVIDENCIAR

Para esta solene ação litúrgica, deve-se providenciar, em lugar apropriado, uma cruz (coberta com véu, caso se adote a primeira forma de apresentação) e dois castiçais. Para o presbitério, importante haver o missal romano, lecionário, toalha e corporais. Quanto ao altar da Reposição, separar véu umeral (para diácono ou presidente da celebração) e dois castiçais.


2 CELEBRAÇÃO E QUESTÕES PRÁTICAS

O presidente da celebração, ao se aproximar do altar, em clima de absoluto silêncio, prostra-se ou ajoelha-se diante dele por alguns instantes. A assembleia também permanece em silêncio orante, de joelhos. Em seguida, é proferida oração, sem o “oremos”.


2.1 LITURGIA DA PALAVRA

Imediatamente após a oração, inicia-se a Liturgia da Palavra. Na narração da Paixão de Nosso Senhor, é costume, assim como no Domingo de Ramos, haver distribuição de funções para mais leitores, de acordo com as personagens, havendo, para tanto, a figura do narrador. Toda a igreja se ajoelha silenciosamente quando do anúncio da morte de Jesus. Não se beija o livro ao final da narração.


2.1.1 Oração Universal

Após a homilia, inicia-se a oração universal, com dez preces específicas, a saber: pela Santa Igreja, pelo Papa, por todas as ordens e categorias de fiéis, pelos catecúmenos, pela unidade dos cristãos, pelos judeus, pelos que não creem no Cristo, pelos que não creem em Deus, pelos poderes públicos e por todos os que sofrem provações. Durante essas preces é facultada à assembleia permanecer ou não de joelhos.


2.1.2 Adoração da Cruz

Logo depois da oração universal, tem início a adoração da Cruz, costume que se originou em Jerusalém a partir do Século IV, e que pode ocorrer de duas formas. Na primeira forma, um diácono (ou um acólito) parte do fundo da igreja com a cruz velada, acompanhada por duas velas acesas. A cruz é entregue ao presidente da celebração, junto ao altar, e este vai descobrindo-a em três partes, apresentando-a para adoração dos fiéis, entoando a cada parte descoberta a fórmula invitatória “Eis o lenho da Cruz do qual pendeu a salvação do mundo”. A assembleia responde: “Vinde, adoremos!”. Após, todos se ajoelham por alguns momentos, em adoração, enquanto o presidente, em pé, sustenta a cruz. Em seguida, inicia-se a adoração, com a cruz colocada frente ao presbitério, ladeada pelas velas.

Na segunda forma de apresentação, o diácono ou, na sua ausência, o próprio presidente da celebração, toma a cruz descoberta na porta da igreja e lá mesmo, depois ao meio do templo e à frente do presbitério, eleva a cruz e entoa a fórmula envitatória acima já descrita, havendo por parte da assembleia a mesma resposta. A entrada da cruz é acompanhada por duas velas. Ao final da terceira fórmula, todos se ajoelham em adoração, com exceção do presidente da celebração.

Para a adoração, esta se inicia com o presidente da celebração, seguido do diácono e ministros, e sequenciado pelo povo. A cruz é saudada com uma simples genuflexão, ou outro sinal adequado, de acordo com o costume local, como o beijo. Enquanto isso, cantam-se antífonas específicas ou outros cantos adequados.

Não pode haver mais de uma cruz exposta para a adoração. Caso a assembleia seja numerosa, após a adoração do presidente, membros do clero e parte dos fiéis, o presidente toma a cruz, dirigindo-se para junto do altar e de lá convida a assembleia a adorar a cruz. Em seguida, eleva a cruz durante algum tempo, enquanto os fiéis adoram-na em silêncio (cf. CB 323). Após o momento de adoração, a cruz fica exposta próximo do altar, ladeada pelas velas.


2.1.3 Sagrada Comunhão

Para a Sagrada Comunhão, dois castiçais acompanham as âmbulas que estavam no lugar da reposição pelo caminho mais curto entre este lugar e o altar. Enquanto isso, o altar já estará revestido da toalha; castiçais são colocados sobre o altar ou junto dele. A assembleia acompanha o momento ficando em pé.

Uma vez depositadas as âmbulas sobre o altar, o presidente genuflecte diante do Santíssimo e procede ao rito de comunhão, excetuando-se a oração pela paz e consequente saudação. Após a distribuição da Comunhão, as âmbulas são reconduzidas para o altar da Reposição. Não se volta as âmbulas para o sacrário, a menos que as circunstâncias assim exijam (cf. CB 328).


2.1.4 Bênção sobre o povo e final da ação litúrgica

Uma vez observado o silêncio sagrado, o presidente da celebração recita a oração depois da comunhão. Em seguida, profere, de mãos estendidas, a bênção sobre o povo. Em seguida, genuflecte diante da cruz e se dirige para a sacristia. A assembleia se retira em absoluto silêncio. O altar torna a ficar desnudado em tempo oportuno.


3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os mesmos cuidados devem ser levados em consideração em relação a outras liturgias dessa semana. A questão do microfone, que deve ser em número maior, caso haja leitores na narração da Paixão.

Neste dia, não se beija o livro ao final da narração da Paixão, tampouco se incensa ou se ladeia com tochas.

Na oração universal, cada prece é constituída de uma fórmula invitatória antes da oração proferida pelo presidente da celebração. Esta fórmula pode ser proferida por um diácono, no ambão.

Mesmo no início da ação litúrgica, onde for costume, estende-se um tecido roxo à frente do altar, onde o presidente da celebração se prostrará com rosto por terra.

Caso a apresentação da cruz ocorra conforme a primeira forma, seja o tecido preso por alfinetes, laços ou velcros que facilitem a descoberta por partes. A cor do véu usado deve ser roxa e a cruz deve conter a imagem de Cristo crucificado.

Para a adoração da cruz, é recomendado que acólitos, ministros ou outras pessoas sejam designadas para limpar com tecido as partes beijadas pelos fiéis, caso esse sinal seja costume da comunidade.

É preciso ter em mente que o termo "adorar" empregado nessa ação litúrgica não nos induz à adoração de imagem. Revivendo o drama da paixão e morte de Cristo, o adoramos enquanto Senhor crucificado que deu-nos vida por sua morte.

Neste dia costuma ocorrer a arrecadação de donativos enviados para as igrejas da Terra Santa. Algumas comunidades o promovem durante a adoração da cruz, mas pode também ser realizado durante a dispersão da assembleia, de modo sereno.

À noite, é costume haver procissões pelas ruas. Cada comunidade paroquial tende a organizar uma e até mesmo preparar uma dramatização da Paixão de Cristo. Embora sendo um momento de devoção popular não obrigatório, é a oportunidade que temos de manifestar publicamente nossa fé no Cristo morto e ressuscitado.

quarta-feira, 31 de março de 2010

QUINTA-FEIRA SANTA: MISSA DA CEIA DO SENHOR

“Todas as vezes que comerdes deste pão e beberdes deste cálice, estareis proclamando a morte do Senhor, até que Ele venha.”
(I Cor 11,26)

INTRODUÇÃO

No entardecer da Quinta-Feira Santa, incia-se o Tríduo Pascal, onde a Igreja revive os momentos derradeiros da vida de Nosso Senhor. Neste dia, celebra-se a Sagrada Ceia pela qual Cristo institui o Sacramento da Eucaristia. Amando os seus até o fim, Jesus antecipa sua entrega a favor da humanidade, pelo seu santíssimo Corpo e preciosíssimo Sangue nas espécies do pão e do vinho. Era uma ceia judaica e se aproximava a festa da Páscoa dos judeus.

A atitude de Nosso Senhor nos revela um Deus amoroso e sempre presente na vida e na história de seu povo. Ele perpetua sua presença entre nós, pela Eucaristia, instituindo também o sacerdócio ministerial ao ordenar que se celebre sempre aquela ceia em sua memória (cf. I Cor 11,24-25). Através dos sinais sacramentais perpetuados em nosso meio, portanto, celebramos também o seu Mistério Pascal.

Também conhecida como Missa do Lava-Pés, apesar de não ser o foco (este rito até pode ser omitido), esta celebração traz a dinâmica da humildade, que era o que aquele gesto indicava à época. Com isso, Jesus nos dá o novo mandamento do amor, que iguala escravos e livres, que devem servir o próximo indistintamente. O gesto do lava-pés traduz de maneira perfeita esse novo mandamento.


1 ASPECTOS CELEBRATIVOS

A celebração da Ceia do Senhor, assim como as demais celebrações do Tríduo Pascal é marcada pela ocorrência de elementos atípicos. Onde for recomendação, neste dia, doze pessoas terão seus pés lavados, repetindo o gesto de Cristo. Após a comunhão eucarística, ocorre o translado do Santíssimo Sacramento e o altar “perde” função a partir de então, até a Vigília Pascal, ficando desnudado, assim como seu entorno. Além disso, um clima de absoluto silêncio deve ser observado quando da dispersão da assembleia.


1.1 O QUE PROVIDENCIAR

De complexidade considerável, esta celebração requer cuidados extras em relação a uma Missa estacional (dominical cotidiana): a preocupação em se consagrar partículas em quantidade suficiente para a Liturgia da Paixão do Senhor, na Sexta-feira Santa é um importante exemplo.

Além disso, necessário se faz separar o véu umeral para o momento do translado, turíbulo e naveta para a celebração (o Cerimonial dos Bispos indica um segundo turíbulo), tochas e velas.

No que diz respeito ao ritual do lava-pés, fundamental preparar os assentos para os designados, bem como preparar gremial (avental (se houver)) jarro e bacia com água, toalha para enxugar os pés e outra para que o presidente lave as mãos, incluindo sabonete e lavabo.

Para o translado do Santíssimo Sacramento, necessário preparar uma capela lateral, contendo um outro sacrário para reposição, bem como flores, velas e outros ornamentos adequados.


2 QUESTÕES PRÁTICAS

Dada a magnitude da celebração, convém que os leitores sejam orientados a ensaiarem bem os seus textos, de modo a evitar falhas durante as leituras. Da mesma forma, os designados para desnudar o altar podem simular o momento, priorizando o silêncio e a discrição.

Os “discípulos” devem ser orientados quanto aos procedimentos que ocorrerão durante a celebração. Para isso, uma reunião prévia deve ser realizada, na qual se priorizará o que segue:

- roupas: se não houver um traje padrão, oriente-se para que os participantes estejam adequadamente trajados: calça e camisa para os homens, o mesmo para as mulheres, permitindo-se o uso de vestidos ou saias abaixo do joelho;
- calçados: sandálias ou chinelos, evitando-se calçados fechados para facilitar o momento do “lava-pés”.
- postura: convém destacar a importância da postura, ainda mais por se tratar de pessoas que estarão em evidência.


2.1 O LAVA-PÉS

O rito do lava-pés, apesar de bastante significativo e dentro da dinâmica da celebração, não é obrigatório, razão pela qual pode ser realizado onde for costume ou aconselhado (cf. CB 301). Para a sua realização, após a homilia, os escolhidos são conduzidos até o lugar onde os assentos foram preparados. O presidente da celebração depõe a casula, podendo cingir-se com um gremial de linho adequado (o CB aponta esta possibilidade ao bispo, que eventualmente utilizando a dalmática, não poderá depô-la). Gremial é uma espécie de avental. Aproximando-se dos doze escolhidos, deita água no pé direito, enxugando-o em seguida. O rito não prevê o gesto do beijo, comumente disseminado pelas comunidades, mas também não o impede, indo do costume do local. Ainda que muitas comunidades escolham mulheres para a ocasião, o Cerimonial dos Bispos indica somente homens (idem).

Durante a realização do lava-pés, a equipe de canto entoa antífonas ou cantos adequados. Terminado o rito, o presidente lava as mãos, retoma a casula, e se dirige à cadeira presidencial (sédia), de onde prosseguirá a celebração, omitindo-se o Símbolo (Profissão de Fé), finalizando a Liturgia da Palavra com a oração dos fiéis. Não existe recomendação para que os doze permaneçam no mesmo local, sendo mais indicado que todos retornem aos seus lugares de origem, sobretudo se estiverem no presbitério.


2.2 SAUDAÇÃO DA PAZ: UMA CURIOSIDADE

Nas novas disposições trazidas pelo Concílio Vaticano II, que promoveu grandes reformas na Sagrada Liturgia, nada se observa quanto à saudação da Paz de Cristo. Contudo, na tradição pré-conciliar, o “ósculo da Paz” era omitido neste dia, consequência de um antiquíssimo uso da Igreja de não se dar a Paz na Sexta-feira Santa. Omitia-se, também, como sinal de horror pelo “beijo traidor” de Judas Iscariotes.


2.3 TRANSLADO

Para o momento do translado do Santíssimo Sacramento para o Altar da Reposição, após a oração depois da comunhão organiza-se uma procissão, com a seguinte ordem de integrantes: acólito com a cruz, acompanhado de acólitos que levam os castiçais com as velas acesas; a seguir o diácono e dois turiferários com os turíbulos fumegando, o presidente da celebração e ministros com o Santíssimo Sacramento. Todos levam velas e, junto do Santíssimo Sacramento levam-se tochas (cf. CB 307). Enquanto isso, canta-se um canto eucarístico apropriado, sendo mais indicado o “Canta Igreja”, exceto as duas últimas estrofes. Em relação à citação de referência, ocorre algumas variações em relação ao texto original, adaptados à realidade das comunidades, onde o presidente da celebração é o sacerdote.

Chegando-se ao local da reposição, o diácono ou, na falta dele, o presidente da celebração coloca as âmbulas sobre o altar ou no sacrário, mantendo-o com a porta aberta. De joelhos, o presidente incensa o Santíssimo Sacramento, enquanto se canta “Tão sublime”. Após a incensação, as âmbulas são recolhidas para o sacrário e a porta é fechada.

Observado um breve instante de adoração, todos se levantam, genufletem e deixam, em silêncio, o recinto, rumo à sacristia. Não há benção de envio (final). Após esse momento, é indispensável a observação do mais absoluto silêncio.

Dentro das condições de cada comunidade, é recomendado aos fiéis que durante a noite permaneçam em adoração. A partir da meia noite, porém, não deve haver nenhuma solenidade.


2.4 DESNUDAÇÃO DO ALTAR

Após o “término” da celebração, o altar é desnudado. Dele retira-se castiçais, cruz do altar, toalha e outros objetos. É comum ainda, embora não prevista, a retirada de outros objetos móveis localizados no presbitério, como cadeiras e imagens pequenas. Quanto às cruzes eventualmente existentes, se não removidas, que sejam cobertas. Imagens também costumam ficar ocultas.


3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

É visível que a celebração envolve momentos de complexidade relevante, necessitando de cuidados especiais. Geralmente, as comunidades ficam repletas de fiéis; desta forma, haja o devido cuidado na escolha de leitores, para que as leituras sejam devidamente proclamadas. À frente, no espaço do presbitério, poderá haver uma mesa de estatura baixa e característica rude, onde estarão alguns pães (como sírios), um maço de trigo, um jarro com vinho e uvas (rosadas). Se oportuno, uma estola também ficaria junto aos outros símbolos, remetendo à ideia da instituição do sacerdócio ministerial, por meio do qual nos vem Cristo Eucarístico, nos dons do pão e do vinho.

A necessidade de prestar assistência ao presidente da celebração, sobretudo na ausência de diácono, é evidente. Haja essa preocupação, visando ao bom desenvolvimento da celebração.

Durante o hino de louvor é bastante significativo que os sinos sejam repicados, onde houver. Após esse momento, são “calados” até o hino de louvor na Vigília Pascal.

Na oração eucarística, durante a elevação das espécies transubstanciadas, onde for costume o uso de sinetas, estas deverão ser substituídas por matracas.

Neste dia é oportuna a distribuição da comunhão sob as duas espécies, já que a data é bastante significativa. Caso ocorra, redobre-se os cuidados sobre o preparo do altar, com um corporal maior, quantidade de cálices proporcional ao número de âmbulas, vinho em maior quantidade e ministros em número suficiente. Orientações relativas podem ser dirigidas aos fieis, em caso de necessidade.

Outro momento importante, está na observância do silêncio após o translado, tanto dentro quanto fora do espaço celebrativo. Haja orientação suficiente nesse sentido, preferencialmente antes da celebração, para não quebrar o clima solene e meditativo.

Como os próprios documentos relativos à liturgia indicam, não se expõe o Santíssimo à adoração dos fiéis, no ostensório; ao contrário, fica em âmbulas dentro do sacrário fechado.

sexta-feira, 26 de março de 2010

O TRÍDUO PASCAL


“Tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim.”
(Jo 13,1b)

De acordo com os livros litúrgicos, o Tríduo Pascal tem início na tarde da Quinta-feira Santa com a Missa vespertina na Ceia do Senhor se estendendo até a Vigília Pascal no Sábado Santo. Ele não faz parte da quaresma, inciada na Quarta-feira de Cinzas, cujo fim se dá antes do período vespertino da Quinta-feira Santa, mas constitui a grande celebração do Mistério Pascal de Jesus.

Considerando a unidade do tríduo, é como se esses três dias constituíssem um único dia: a missa da Quinta-feira não termina, continuando com a vigília que se estende pela madrugada (em mutias comunidades) até às 15h, com a Liturgia da Paixão. Ao anoitecer da Sexta-feira da Paixão, as ruas de nossas comunidades são tomadas por grandes multidões que com velas e cantos, caminham em procissão, testemunhando o Cristo que se entrega a favor de muitos, na espera da sua gloriosa ressurreição. Da mesma forma, em sequência à liturgia das 15h da sexta-feira, na qual não houve nem saudação inicial nem final, vivemos o silêncio esperançoso do Sábado Santo, junto ao santo sepulcro. À noite, porém, celebramos a liturgia mais solene do ano litúrgico, a mãe de todas as vigílias, a Vigília Pascal no Sábado Santo, na qual a Igreja antecipa as alegrias da Páscoa, a grandiosa e soleníssima festa da Ressurreição de Jesus Cristo.

Estas celebrações constituem o cume de toda a vida cristã, pois nela revivemos os aspectos mais importantes da vida de Cristo para a humanidade: sua paixão, morte e gloriosa ressurreição.

A ideia de preparação que o termo “tríduo” sugere não encontra sentido nesse contexto, uma vez que a unidade desses dias com a Páscoa é indivisível. Logo, celebrar a Páscoa, é trazer à memória o sofrimento de Cristo em sua entrega e morte na cruz e, a partir daí, fazer ressoar a grande boa nova: Ele vive! Portanto, nesse contexto, todos os dias do tríduo são importantes, porque eles se complementam e estão de tal forma associados que perder um dia é como chegar atrasado à uma missa dominical do cotidiano.

Infelizmente, o que se percebe nos tempos atuais são pessoas que aproveitam o chamado “feriadão” para viajar e sequer se recordam da rica dimensão litúrgica celebrada e atualizada de forma tão bela e singular.

É preciso, pois, eliminar o aspecto recreativo e comercial da data, revivendo com Cristo toda sua dramática história para que entrando com Ele no sepulcro saiamos renovados para mais um ciclo anual. E não há tempo mais propício para isso que as festividades pascais.

quarta-feira, 24 de março de 2010

DOMINGO DE RAMOS E DA PAIXÃO DO SENHOR

“Se com Ele sofremos, com Ele reinaremos.”
(II Tm 1,12)

INTRODUÇÃO

Com ramos nas mãos, recordando a entrada triunfal de Cristo em Jerusalém (cf. Lc 19,28-40), sendo aclamado rei pelo povo, a Igreja abre a Liturgia deste domingo. O Cerimonial dos Bispos (CB) salienta a duplo aspecto do Ministério Pascal de Cristo que convenientemente deve ser abordado na catequese deste dia (cf. CB 263), salientando que estamos inseridos na realidade pascal de Jesus, ou seja, sepultados para o pecado com Cristo, igualmente ressurgiremos para a eternidade em Deus.

É costume que nas comunidades haja apenas uma celebração com bênção e procissão dos ramos, no horário que for mais conveniente. As demais celebrações ocorrem sem esse momento de manifestação pública pelas ruas das comunidades.

O Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor é uma junção de duas liturgias muito ricas. A Liturgia das Palmas é herdada da Igreja-Mãe da Terra Santa que por volta do Século V recordava a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, percorrendo o mesmo caminho que Ele, revivendo com entusiasmo as cenas narradas pelos evangelistas A Igreja de Roma, por sua vez, celebrava de maneira austera a paixão de Cristo, antecipando seu santo sacrifício. A partir do Século XII, ocorre a incorporação da primeira liturgia à segunda, objetivando mostrar as duas extremidades daquela semana em que Jesus foi traído, condenado, flagelado e crucificado, mesmo sendo aclamado rei poucos dias antes.

Ao passo que a liturgia antecipa a memória da morte do Salvador, também antecipa sua Páscoa, proclamando-o rei. Por isso, essa data também ficou conhecida como a “Páscoa Florida”.


1 ASPECTOS CELEBRATIVOS

As missas deste dia são constituídas de duas partes, a saber: comemoração da entrada de Jesus em Jerusalém e celebração eucarística.


1.1 COMEMORAÇÃO DA ENTRADA DE JESUS EM JERUSALÉM

Esta primeira parte tem início em local fora da igreja, como uma igreja menor ou outro lugar apropriado. Nesta parte, o presidente da celebração chega ao local, enquanto entoa-se um canto apropriado. Após, o presidente saúda a Santíssima Trindade e a assembleia reunida, convidando-a a participar de forma ativa e consciente da celebração do dia. Em seguida, profere a oração de bênção dos ramos, aspergindo-os em seguida.

Logo após a bênção dos ramos, ocorre a proclamação do Evangelho referente a esta primeira parte. Posteriormente, a convite do diácono ou do próprio presidente, inicia-se a procissão rumo à igreja. Enquanto caminha, a assembleia entoa cantos e aclamações em honra de Cristo-Rei.


1.1.1 Observações sobre a primeira parte

Considerando a celebração inciada em lugar externo, algumas considerações são pertinentes, como as relativas ao serviço de som adequado, objetos utilizados durante o rito e equipe de canto litúrgico.

Em relação ao som, indispensável ressaltar a importância que exerce ao permitir que todos os fiéis presentes ouçam com atenção e comodidade as orações, motivações e cantos relacionados ao momento. Convém se pensar numa mesa de som única, que seja móvel, de modo a permitir seu uso durante o trajeto processional até a igreja.

Quanto aos objetos litúrgicos, são essenciais para o bom andamento da celebração. A caldeira com o asperges, por exemplo, deve estar preparado e colocado sobre uma mesa. Atenção quanto a água; caso não esteja benta, avisar o presidente da celebração. E mais, a depender da quantidade de fiéis e da capacidade da caldeira, convém deixar um recipiente com mais água para acrescentar, em caso de necessidade de reposição. O uso de incenso também é bem propício nesta ocasião, motivo pelo qual turíbulo com brasa e naveta com incenso devem estar previamente preparados, tendo as funções de turiferário e naveteiro devidamente desempenhadas. A cruz processional pode estar ornada com alguns ramos bentos e seguirá em procissão logo atrás do turíbulo, ladeada pelas tochas (velas). Missal, lecionário e/ou evangeliário também devem estar previamente preparados, com as partes relacionadas já separadas pelas fitas que os acompanham.

Durante a aspersão dos ramos, é facultado ao presidente o uso da capa pluvial de cor vermelha, veste com a qual o presidente poderá conduzir toda a primeira parte da celebração.

Uma equipe de canto litúrgico é bastante importante nesse contexto, já que tem a função de sustentar a assembleia com cânticos. Ademais, diante de uma manifestação pública de fé em Cristo, nesse dia aclamado rei, essa e outras questões merecem esmero, de forma a envolver as pessoas que eventualmente acompanharão, mesmo sem participar, a procissão. A beleza e os cuidados também são formas de evangelização. Naturalmente, os cantos traduzem o espírito da celebração, que é proclamar Cristo como rei, dar hosanas ao Filho de Davi, tal como aquele povo à época do acontecimento.

Por fim, é conveniente a preparação de um belo ramo, talvez trabalhado, ornado com um laço vermelho, para que o presidente da celebração possa ostentá-lo durante o trajeto processional rumo à igreja.


1.2 CELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA

A partir da chegada da procissão à igreja, a celebração segue com a celebração eucarística. Estruturalmente pouco se diverge de outras celebrações, salvo os ritos iniciais que não ocorrerão. A narrativa da Paixão de Nosso Senhor é extensa e comumente participativa, onde vários leitores participam; o presidente normalmente lê os textos de Jesus e a assembleia interpreta o povo da época. Diante da narrativa do momento em que Cristo entrega seu espírito, uma pausa é inserida, acompanhada um momento onde todos se ajoelham. A partir deste ponto pós-narrativa da paixão, a celebração deixa de assumir particularidades, exceto durante a apresentação das oferendas, quando a Igreja no Brasil realiza a coleta da solidariedade, um gesto concreto à Campanha da Fraternidade realizada todos os anos no período da quaresma.


1.2.1 Observações sobre a segunda parte

Chegada à igreja, a procissão é finalizada. Os fiéis tomam seus lugares e a segunda parte desta celebração se inicia com a oração da coleta, omitindo-se os ritos iniciais comumente realizados nas demais celebrações e parcialmente empregado na primeira parte desta celebração. É costume nas comunidades, quando do fim da procissão, que a equipe celebrativa aguarde a entrada dos fiéis para, enfim, se dirigirem ao presbitério. De qualquer forma, não se trata de uma nova entrada processional, mas a conclusão da que se iniciou no ambiente externo.

Chegando ao presbitério, antes da veneração do altar, o presidente da celebração, se assim entender, retira a capa pluvial e se reveste da casula vermelha. Em seguida, venera o altar e o incensa. Ocupando a frente da cátedra, o presidente conduz a oração da coleta. Inicia-se, após, a Liturgia da Palavra, como de costume. Porém, o Evangelho, neste momento chamado de “Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo”, costuma contar com a participação de um narrador, alguns leitores, Jesus e o povo, sendo que as falas de Jesus costumam ser interpretadas pelo presidente da celebração, ao passo que as sentenças do povo são proferidas por toda a assembleia. Geralmente, os folhetos litúrgicos trazem essas indicações, sobretudo a respeito do momento onde toda a igreja se ajoelha durante uma pausa em silêncio (quando Jesus entrega seu espírito). Esse modo de narrar a paixão, caso ocorra, demanda muito preparo, sobretudo ensaios prévios, sendo recomendado pessoas experientes na função de leitor e que saibam usar o microfone de forma adequada. Convém, ainda, escalar somente homens para a narrativa, uma vez que as falas se referem a personagens do sexo masculino.

Para a narrativa da paixão de Nosso Senhor, não se incensa o livro litúrgico, nem se o ladeia com velas. Ao final, também não se beija o livro, como de costume.

Relativo à apresentação das oferendas, é costume a oferta do gesto concreto da quaresma, direcionado pela Campanha da Fraternidade. Para isso, a fim de separar essa coleta específica da cotidiana, deve haver o cuidado em se distribuir envelopes para esse fim.

Dentro das preocupações, além da cor litúrgica vermelha, é costume das comunidades adornar as igrejas com ramos. Contudo, haja cuidado para se evitar exageros, desviando a atenção da celebração, ainda mais que nessa segunda parte, o foco principal está na paixão de Nosso Senhor. Outro cuidado é preparar um cesto com ramos abençoados para distribuição aos fiéis que não trouxeram os seus. O melhor momento para esta distribuição é durante a dispersão da assembleia ao fim da celebração.


2 NAS CELEBRAÇÕES SEM PROCISSÃO

Onde não houver procissão, a bênção dos ramos poderá ocorrer na forma de entrada solene, onde os fiéis trazendo seus ramos, se reúnem na porta da igreja ou dentro dela. O presidente da celebração, acompanhado por alguns fiéis, se dirige para uma parte da igreja de onde haja boa visibilidade e, de lá, inicia a celebração saudando a Santíssima Trindade e a comunidade reunida. A partir desse ponto, a celebração segue nos moldes da primeira parte (ver 1.1), com exceção da procissão, que ocorrerá somente com o trajeto do presidente e equipe celebrativa até o presbitério para sequência, conforme a segunda parte (ver 1.2).


3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Dispensável informar os cuidados que devem cercar a preparação desta celebração. O fato de ser anual exige constante consulta aos livros litúrgicos a fim de se recordar cada passo. Para tanto, algumas reuniões antecipadas devem ocorrer para tratar de escalas, atribuição de funções, listagem de equipamentos, objetos e outras pendências, checagem das vestes utilizadas, enfim uma preparação prévia que visa evitar “furos” de ordem organizacional e litúrgica.

Em algumas comunidades é costume cobrir as imagens a partir deste dia. Em outras, as imagens são cobertas logo no início da quaresma. Caso haja esse propósito, os tecidos também deverão estar preparados para cobertura das imagens antes da celebração. Geralmente, usa-se tecido roxo para essa finalidade.

O fato de ser o domingo que antecede o grande Domingo da Ressurreição, com uma celebração diferenciada e que atrai olhares atentos por parte dos fiéis e de pessoas que estarão pelas ruas acompanhando as movimentações, a motivação deve ser maior, em vista de uma celebração bem conduzida e harmoniosa. Muito importante haver uma coordenação que se preocupe em estabelecer relações prévias entre presidente da celebração, equipes de canto litúrgico, escalados para funções e a própria comunidade. Dessa forma, o hosana entoado em honra de Cristo ganhará mais força e, pela 'comum unidade' dos participantes desse ato litúrgico, ecoará pelas ruas das nossas comunidades, das nossas cidades e de todo o mundo.

terça-feira, 23 de março de 2010

SEMANA SANTA

Nos próximos dias trataremos de um tema de relevante importância a nós, cristãos: a Semana Santa. Também conhecida como Semana Maior, é o momento onde atualizamos de forma intensa a paixão, morte e ressurreição de Nosso Senhor. Daí a sua importância e destaque ante às demais datas litúrgicas. Para tanto, abordaremos as grandes datas desta semana, começando pelo Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor, passando pela Quinta-Feira Santa, Sexta-Feira da Paixão, Sábado Santo e culminando na grandiosa Vigília Pascal e Domingo da Ressurreição do Senhor. Muito mais que abordar a questão histórica dessas datas, algumas diretrizes serão oferecidas de forma a subsidiar as equipes de liturgia, em vista de celebrações bem preparadas e vivenciadas.

Morrendo nossa morte para que pudéssemos viver a sua vida, Jesus inaugura um novo tempo de reconciliação e de misericórdia. Renascidos pelo batismo e purificados pelo sacramento da reconciliação, somos chamados a fazer memorial do sacrifício único e definitivo de Cristo na cruz. A fim de bem celebrarmos os acontecimentos derradeiros do ministério de Jesus, a Igreja entra com seu Mestre no deserto e, com Ele, se prepara e busca forças para vencer o maligno a fim de evangelizar todos os povos, fazendo-os promotores da Verdade, propagadores do Cristo ressuscitado que passou pela cruz, símbolo de loucura para muitos, no qual nos gloriamos.

Acompanhe, portanto, as próximas publicações. Juntos refletiremos e viveremos, mais uma vez, os sofrimentos de Cristo, sepultando o homem velho e ressurgindo, gloriosos, para a nova vida que nos espera.

sábado, 6 de março de 2010

O “NOME DE DEUS” NA LITURGIA


Não é algo tão recente, mas parece que é desconhecido em muitas comunidades católicas. Desde meados de 2008, a Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos emitiu carta às conferências episcopais em que trata do uso no “Nome de Deus” na Liturgia. Eis o resumo desta carta, elaborado pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil:

“A Presidência da CNBB recebeu uma carta da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos (29/06/08) com orientações sobre a “tradução e pronúncia, no âmbito litúrgico, do divino Nome significado no tetragrama sagrado - YHWH”. Apresentamos aqui um resumo desta carta.

I – Parte expositiva

a) Na Bíblia, o nome próprio do Deus de Israel, conhecido como tetragrama sagrado ou divino, está escrito com quatro letras consoantes do alfabeto hebraico na forma YHWH, traduzido sob diversas formas de escrita e pronúncia em nossas orações e cantos, como, por exemplo, “Yahweh”, Jahweh”, “Javé” etc.

b) No Antigo Testamento, o santo nome de Deus revelado no tetragrama YHWH, era expressão da infinita grandeza e majestade de Deus, e, por isso, NÃO SE PODIA PRONUNCIÁ-LO, sendo, portanto, substituído, na leitura do texto sagrado, com uma denominação alternativa – ADONAY – que significa “Senhor”.

c) A tradução grega do Antigo Testamento, chamado dos Setenta, usou regularmente o tetragrama hebraico com o vocábulo grego Kyrios, que significa “Senhor”. Uma vez que o texto dos Setenta constituiu a Bíblia das primeiras gerações cristãs de língua grega, em que também foram escritos todos os livros do Novo Testamento, os próprios cristãos das origens nunca pronunciaram o tetragrama divino. Na tradução para o latim, o termo foi traduzido pelo vocábulo “Dominus”, correspondente tanto ao hebraico Adonay como ao grego Kyrios.

d) Na cristologia neo-testamentária, o termo Senhor é reservado a Cristo ressuscitado, proclamando assim a sua divindade (cf. Fl 2,9.11; Rm 10,9; 1 Cor 2,8; 12,3; Rm 16,2; 1 Cor 7, 22; 1 Ts 3,8 etc).

e) O fato da Igreja ter deixado de pronunciar o tetragrama do nome de Deus, além de um motivo de ordem filológico, expressa também a fidelidade à tradição eclesial, uma vez que o tetragrama sagrado nunca foi pronunciado em âmbito cristão nem traduzido em nenhuma das línguas em que a Bíblia foi traduzida.

II – Parte dispositiva

1. “Nas celebrações litúrgicas, nos cantos e nas orações, não se use nem se pronuncie o nome de Deus na forma do tetragrama YHWH.

2. Nas traduções do texto bíblico para as línguas modernas, destinadas ao uso litúrgico da Igreja, empregue-se para o tetragrama divino o equivalente Adonay / Kyrios: “Senhor”.

3. Nas traduções, no âmbito litúrgico, de textos que tenham, um a seguir ao outro, o termo hebraico Adonay e o tetragrama YHWH, traduza-se Adonay com “Senhor” e use-se a forma “Deus” para o tetragrama YHWH”.

Pedimos, portanto, que as equipes de liturgia, entre elas, os responsáveis pelos cantos litúrgicos, fiquem atentos a esta orientação da Congregação para o Culto Divino e façam as devidas adaptações. Na revisão dos Lecionários, do Missal Romano e do Hinário Litúrgico, a equipe de tradutores da CNBB seguirá esta orientação.

Brasília, 29 de outubro de 2008.
Comissão Episcopal Pastoral para a Liturgia”

Parece que esta orientação não vem sendo seguida em muitas comunidades, mas em nome da comunhão da Santa Igreja, precisa entrar nas pautas das reuniões de equipes de cantos e de Liturgia, visando à adequação. Muitos cantos trazem o Nome de Deus e precisam ser adaptados ou até excluídos dos repertórios, ou não se enquadrará como canto litúrgico, em vista da dissonância com a Tradição.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

CRIANÇA NA LITURGIA


É prática comum de algumas denominações religiosas promover uma espécie de escola infantil durante seus cultos. Dessa forma, a criança fica num ambiente a parte, enquanto seus pais ou responsáveis participam com mais calma do ato religioso.

Várias pessoas defendem essa prática como saída para as missas barulhentas, cheias de crianças que correm de um lado para outro, fazem novas amizades, gritam e choram. Dentro da Igreja, já é um costume ocorrer os “grupinhos” em dia de grupo de oração da Renovação Carismática Católica – RCC. Neles, as crianças brincam e se integram, não deixando de lado a oração e o aprendizado. Da mesma forma, algumas paróquias adotaram esse hábito nas missas.

É possível visualizar um problema quando a missa apresenta um “escape” desses. Diferentemente dos grupos de oração ou dos cultos de outras denominações religiosas, a Igreja convida todos a um encontro profundo com o Ressuscitado. Não apenas por palavras e cantos de louvor, mas por sua privilegiada presença na eucaristia. A missa, portanto, vai além de um simples culto, pois obediente às palavras de Cristo na última ceia, atualiza sua presença de forma real, nos dons do pão e do vinho, transubstanciados verdadeiramente no corpo e no sangue de Nosso Senhor.

A Igreja prevê a possibilidade de se adaptar a linguagem usada na missa para que a criança não se sinta excluída, pelo contrário, sinta-se acolhida e membro ativo da comunidade cristã. Assim, muitas comunidades dedicam horários de celebração aos pequeninos, geralmente a missa onde as crianças que se preparam para a primeira eucaristia frequentam. Não se trata de uma liturgia modificada, mas de uma linguagem mais acessível, popular, com cantos diferenciados. Inclusive, no Missal Romano, existem orações destinadas à assembleia infantil, caso de algumas orações eucarísticas.

Mas independente dessa realidade, os pais devem ter a constante preocupação de incentivar seus filhos a participar da missa. Infelizmente, vemos pais que levam praticamente uma caixa de brinquedos à igreja, como forma de manter a criança quieta, brincando no banco, desatenta ao que acontece ao se redor. Outros pais levam alimentos, sobretudo doces, para seus filhos se sentirem como em casa. Despreparam a criança para a vida em comunidade, começando a não educar de forma correta e saudável. A criança não pode ser subestimada; na escola precisa permanecer em silêncio durante a aula, no esporte que pratica também precisa se concentrar nas instruções do treinador. Da mesma forma, na igreja, é preciso silêncio para meditar e aprender a ser cristão e a agradar a Deus. Enquanto as crianças forem tratadas dessa forma, poderemos ter pessoas descompromissadas, carecidas de sentido para o que fazem e frustradas. Possivelmente se tornem adultos vazios e confusos, na ótica da fé, dentre outras coisas.

É urgente uma redescoberta da importância da vida cristã e em comunidade. E isso inclui saber que há momentos para cada coisa, e que na missa não é lugar para conversas e recreações. Colocada de maneira suave, aliada ao constante incentivo sobre a necessidade de Deus e o quão agradável é estar em sua presença, tudo fica mais fácil. É duro ver jovens que vão à igreja para reencontrar amigos, paquerar, conversar e rir durante a missa. Talvez tenham sido exatamente estes que quando crianças eram deixados à vontade, soltos para praticar o que quisessem. A comunidade que hoje os critica é, muitas vezes, a mesma que os educou outrora.

Não existe maior patrimônio a se deixar para um filho, para uma pessoa, que a fé. Ela é o que dá fundamento e sentido a todas as outras coisas. A criança tem essa capacidade maior de absorver o que lhe é transmitido e, assim, continuar propagando a fé cristã. E só quem a tem sabe quanta diferença faz na vida.