sábado, 21 de novembro de 2009

CRUZ DO ALTAR

Vemos no Brasil um fenômeno muito interessante e belo: a valorização da arte sacra. Depois de tanto tempo menosprezada, essa questão vem sendo retomada e conduzida com maestria. Nomes conceituados como o do artista plástico Cláudio Pastro conferem aos nossos templos uma nova concepção. São formas e cores que enchem olhares e favorecem o clima orante. Percebemos, contudo, que a cruz já não ocupa mais o centro do presbitério como outrora, dando lugar a pinturas e mosaicos belíssimos, muitas vezes com formatos estilizados e parecidos com os ícones da Igreja Oriental. Mas ao contrário do que muitos pensam, se adequar às normas propostas pelo Concílio Vaticano II, de forma alguma, exclui a necessidade de se haver no espaço celebrativo e visível a toda a assembleia, uma cruz com a imagem do Crucificado. Assim diz o Missal Romano:

IGMR, 122: “A cruz, ornada com a imagem do Cristo crucificado trazida eventualmente na procissão, pode ser colocada junto ao altar, de modo que se torna a cruz do altar, que deve ser uma só; caso contrário, ela será guardada em lugar adequado; os castiçais são colocados sobre o altar ou junto dele; o Evangeliário seja colocado sobre o altar”.

E ainda ratifica o Cerimonial dos Bispos:


Cerimonial dos Bispos, 129: “É de louvar que a cruz processional fique erguida junto do altar, de modo a ser a própria cruz do altar”.

Em muitos lugares é costume virar a cruz na direção de quem preside a celebração, tradição que, embora não sendo norma é pertinente. Os livros litúrgicos apontam a necessidade de haver uma cruz voltada para a assembleia reunida. Mas não basta somente um madeiro exposto; este deve conter a imagem de Cristo crucificado. Em lugares onde não existe a cruz voltada para o povo, a cruz do altar (processional) deve ficar voltada para a comunidade reunida. Em alguns locais a cruz processional fica inicialmente voltada para o povo. Chegando da procissão de entrada é imediatamente colocada de frente para a nave. Posteriormente, fica de costas para a assembleia (e de frente para quem preside a celebração) na preparação do altar para a oração eucarística. Durante a comunhão é voltada novamente para o povo. Haveria uma variação na regra quando do uso de incenso. Chegando ao presbitério, a cruz ficaria inicialmente de costas para o povo para que o presidente da celebração a incense antes do altar. Após a incensação ficaria voltada para o povo, seguindo os procedimentos já descritos.

No caso de não haver cruz processional e somente a cruz do altar (fixa) esta deverá estar sobre o altar de modo centralizado, ladeada por castiçais com velas (duas para celebrações feriais, quatro ou seis para celebrações dominicais ou festivas e sete para celebrações presididas pelo bispo (cf. IGMR 117)). Outra forma comumente usada e que não encontra objeções, é a substituição das velas sobre o altar por quatro castiçais de chão, cada um próximo a uma das quatro pontas do altar.

Um detalhe interessante diz respeito sobre a tradição de manter a cruz, quando sobre o altar, centralizada sobre ele. Sobre isso, o Papa Bento XVI, então Cardeal Joseph Ratzinger, escreveu:

"Mudar a cruz do altar para o lado para dar uma visão ininterrupta do sacerdote é algo que considero um dos fenômenos verdadeiramente absurdos das décadas recentes. A cruz é obstrutiva durante a Missa? O sacerdote é mais importante que o Senhor? Este erro deve ser corrigido tão rapidamente quanto possível; pode ser feito sem ulteriores reconstruções."
(RATZINGER, Joseph. The Spirit of the Liturgy, pág. 80-81, 2000. tradução livre).

Um outro dado curioso: a permissão de uso da cruz de altar e/ou da que fica visível ao povo sem o adorno do Crucificado foi revogada em 20 de dezembro de 1659 (cf. http://harmoniacelestial.wordpress.com/2009/05/23/liturgia-geral-os-santos-lugares-ornamentos-do-altar/). Em outras palavras, a Igreja anuncia Cristo crucificado (cf. I Cor 1,23) e renova, de forma incruenta, o seu sacrifício redentor, daí vindo a necessidade de se haver no espaço celebrativo a cruz com a imagem do Crucificado, indicando que nossa salvação não está simplesmente na cruz, mas Naquele que foi crucificado.

Fica, portanto, o desafio às nossas comunidades em se adequar às normas da Igreja, de modo a celebrar com decoro e em comunhão universal. Como cristãos, não devemos desviar os olhos da Cruz. Nela, pela expiação de Cristo, está nossa salvação e é passando por ela que nos encontraremos com Ele, na Igreja Triunfante.