segunda-feira, 27 de julho de 2009

COM QUE ROUPA EU VOU?

(originalmente publicada na edição de abril/2008 do Informativo Anunciando, com revisões e adaptações)

Provavelmente, a grande maioria dos leitores deste blog já tenha usado ou ouvido o termo “roupa de missa”. Esta expressão serve para elogiar alguém que está bem vestido, que usa uma roupa diferente do dia-a-dia. Isso porque antigamente as pessoas reservavam as melhores roupas para ir à igreja. Antigamente? É o que iremos refletir.

Em cidades litorâneas e em grandes centros de peregrinação é muito comum haver placas de advertência na entrada dos templos, dispondo sobre a proibição de adentrar as igrejas com “trajes impróprios”. Óbvio... Não se entra com traje de banho num espaço sagrado, da mesma forma que não é conveniente usar minissaias, shorts, camisetas regatas, decotes exagerados, muito menos bonés, toucas e chapéus, a menos que seja o bispo com sua mitra e solidéu, já que se trata de paramento litúrgico.

A respeito da comunhão eucarística, o Catecismo da Igreja Católica diz: "A atitude corporal (gestos, roupa) há de traduzir o respeito, a solenidade, a alegria deste momento em que Cristo se torna nosso hóspede." (CIC 1387). De fato, como bem lembra o texto citado, a missa é um ato solene, onde atualizamos o mistério pascal de Jesus: sua paixão, morte e ressurreição. Atualizar significa reviver sem que isso implique uma nova expiação, pelo contrário, o sacrifício de Cristo e o sacrifício da Eucaristia, formam um único sacrifício; apenas a maneira de oferecer difere ambos (cf. CIC 1367).

Diante do exposto, surge a pergunta que é título desta postagem: com que roupa eu vou? Se uma pessoa entrar numa loja e pedir uma roupa para uma ocasião solene, qual o vendedor vai indicar? Diante de um encontro com uma pessoa muito importante, numa entrevista de emprego ou perante um juiz de direito, qual roupa seria adequada?

Cada lugar requer uma vestimenta característica: por mais que faça calor, não se usa roupa de praia no trabalho, da mesma forma que ninguém vai dar um mergulho vestindo camisa e gravata. Raramente a camisa do time de futebol do coração será bem-vinda ao ambiente de trabalho, assim como a barriga a mostra, shorts ou chinelo implicaria na proibição de acesso a um fórum. A regra de ouro na escolha de um traje que seja adequado a certo ambiente é o uso do bom senso. E é essa percepção que supera pensamentos do tipo “o que importa é o coração” ou “sou íntimo de Deus” ou ainda “não tem nada demais”. Claro que ninguém tem o direito de julgar, mas todos têm o dever de fazer com que o corpo, templo do Espírito Santo, seja morada que não escandalize a comunidade. É óbvio, também, que não existe nenhum mandamento fixando um certo tipo de veste para se participar de uma celebração litúrgica. O que existem são alertas a respeito da dignidade e decoro do espaço litúrgico que devem ser levadas em conta na hora de escolher a vestimenta que melhor traduza a grandeza da dimensão celebrada.

Em 2004, João Paulo II, em uma Carta Apostólica, assim se expressou: “torna-se necessário cultivar, tanto na celebração da missa quanto no culto eucarístico fora dela, uma consciência viva da presença real de Cristo, tendo o cuidado de testemunhá-la com o tom da voz, os gestos, os movimentos, o comportamento no seu todo”, não só por ocasião da missa, mas em consequência da presença real na Eucaristia. A atitude de quem está no templo “seja caracterizada por um respeito extremo” (Mane Nobiscum Domine, nº 18).

Para concluir, cito as palavras de São Josemaria Escrivá em uma de suas homilias: “Lembro-me de como as pessoas se preparavam para comungar: havia esmero em arrumar bem a alma e o corpo. As melhores roupas, o cabelo bem penteado, o corpo fisicamente limpo, talvez até com um pouco de perfume. Eram delicadezas próprias de gente enamorada, de almas finas e retas, que sabiam pagar Amor com amor.” E continua: “Quando na terra se recebem pessoas investidas em autoridade, preparam-se luzes, música e vestes de gala. Para hospedarmos Cristo na nossa alma, de que maneira não devemos preparar-nos?”

segunda-feira, 6 de julho de 2009

SILÊNCIO NA LITURGIA

(originalmente publicada na edição de março/2006 do Informativo Anunciando, com revisões e acréscimos)

“A paz que eu sempre quis estava no silêncio que eu nunca fiz...”
(Banda Vida Reluz, A paz que eu sempre quis)

A espontaneidade na liturgia, manifestada através de cantos fervorosos, mãos elevadas, aplausos entre outros, são fatores que podem contribuir para uma celebração mais bem vivenciada, pois, dessa forma, expressamos com todo o corpo o que sentimos perante Deus. Mas quando deparamos com a realidade que nos cerca, percebemos que a liturgia vem sendo conduzida para o barulho, assim como a sociedade está sendo “educada”. É difícil nos silenciarmos, seja em casa, no trabalho, estudos ou até na igreja! Cria-se o hábito de cobrir qualquer ausência de barulho com conversas, gargalhadas ou até mesmo um batuque improvisado.

Na liturgia, o silêncio vem sendo esquecido, menosprezado. Quantos não acham que um momento de serenidade é uma falha na celebração? Basta haver um instante de silêncio para ouvirmos sussurros ou até conversas de pessoas que vão à igreja, mas não formam Igreja, ou seja, permanecem no meio da assembleia ou ficam do lado de fora do templo,conversando, atrapalhando uma celebração, quando deveriam se congregar com os demais irmãos, unidos para celebrar a nova vida dada por Cristo!

O mesmo acontecimento é comum antes do início da celebração. Quantos não são os que adentram o templo e logo puxam assuntos com alguns presentes, tirando o aspecto sagrado do local? Não são capazes de se silenciar por um instante, recolhendo-se em oração ou ao menos respeitando o espaço e as pessoas que ali vão chegando, com o desejo de elevar a Deus alguma prece ou ação de graças, nos momentos que antecedem a Missa.

Durante a celebração então... Celulares que tocam (e tem gente que corre para atender, justificados os casos realmente necessários, embora um modo silencioso fosse o mais indicado para a ocasião), pessoas que não “silenciam” o corpo e andam de um lado para outro, inclusive diante da elevação do Cristo Sacramentado! Parecem não compreender o que está acontecendo...

Dentro da liturgia, existem alguns momentos que devem ser marcados pelo silêncio. Estes vão desde as pausas após o convite para uma oração (oremos), no intervalo entre a primeira leitura e o salmo responsorial, durante a elevação do Santíssimo Sangue e Corpo de Nosso Senhor Jesus Cristo, durante a comunhão e após esse sublime momento, na ação de graças. Recomenda-se breve silêncio, ainda, logo após a homilia.

É preciso, pois, resgatar com urgência a observação do silêncio na sociedade, sobretudo na liturgia. Deixar de fazer barulho não é, obrigatoriamente, fazer silêncio, pois somente ele pode nos proporcionar recolhimento, meditação, encontro consigo mesmo e com o Criador! Não precisamos ir muito longe para buscar um exemplo admirável de seguimento a Cristo através do silêncio. Sua mãe, Maria, é também conhecida como a Virgem do Silêncio, pois guardava palavras e gestos de Cristo em seu coração (cf. Lc 2,51b). Por isso, cante, louve, aplauda, se emocione, mas também faça a experiência do silêncio. É através dele que ouvimos claramente a voz do Pai que nos chama a uma vida de entrega, longe do mal.